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Crítica - Comédia

Obra de iraniano preenche vácuo da cena teatral

'White Rabbit, Red Rabbit' oferece experiência diferente a cada noite e reaproxima os elementos centrais do teatro

SEM PASSAPORTE PARA DEIXAR O IRÃ, AUTOR DECIDIU EMBARCAR NUMA VIAGEM IMAGINÁRIA COM ATORES E PÚBLICO

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Após montagens em mais de 20 cidades de 15 países, "White Rabbit, Red Rabbit", do jovem dramaturgo iraniano Nassim Soleimanpour está em cartaz em São Paulo.

Seu reconhecimento internacional começou no festival The Fringe (Edimburgo), em 2011. Mais de 200 atores (muitos deles célebres) já participaram do experimento.

Não é preciso nem diretor nem cenografia. Ao entrar no palco nu, o ator ou a atriz escolhido para a noite recebe um texto que nunca viu. Será sua única apresentação.

Mas o desafio não é apenas do ator. Quando inicia a leitura da peça e sua interpretação, o público é convidado a participar. Estabelece-se um novo paradigma cênico: uma performance sem rede para o ator, com envolvimento não sempre voluntário da plateia.

A proposta cênica surgiu da situação particular do autor. Soleimanpour não tinha passaporte, porque não fez o serviço militar obrigatório.

Decidiu embarcar numa viagem imaginária por meio de sua peça e estabelecer contato virtual com seus atores e espectadores: fornece seu e-mail durante a noite para o envio de fotos e relatos.

O sucesso confirma que "White Rabbit, Red Rabbit" satisfaz carências da cena teatral atual. Possibilitando um trabalho espontâneo do ator, possui uma aura política, ao comentar as restrições socioculturais no Irã.

Por um lado, desafia a versatilidade do intérprete e, quebrando a quarta parede, permite contracenar com não atores. Por outro, o texto, na tradição das fábulas de Esopo, fala por meio de animais sobre mobbing (bullying no trabalho), suicídio e vigilância, tocando questões como obediência e resistência.

Inicialmente é sobretudo divertido. A encenação da fábula do coelho vermelho aproxima palco e plateia.

Quando o autor fala via ator de sua situação, a tensão sobe. Depois, o texto perde um pouco o ritmo, mas o recupera quando volta ao mundo simbólico dos animais.

Não se trata de uma obra-prima, mas da reaproximação dos elementos constituintes do teatro --autor, ator e espectador-- e da vivência de sua interação em estado puro. Cada noite oferece uma experiência diferente.

Guilherme Weber demonstrou desenvoltura. Foi mestre de cerimônias, contador de histórias e, com humor e sutileza, atento à voz do dramaturgo.

Danilo Grangheia manteve alguma distância. Entrou na experiência também com verve, mas comentou o texto, irônico, com olhares e gestos. O público mereceu aplausos em ambas as participações.


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