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O Brasil dos anos 1940 se vê moderno em coletânea

Imagens do austríaco Kurt Klagsbrunn registram transformação da elite carioca

'Refúgio do Olhar' faz diminuir ausência de reconhecimento do fotógrafo entre os que marcaram a profissão

DAIGO OLIVA EDITOR-ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA

Um desconhecido entre nós. Essa pode ser a definição de Kurt Klagsbrunn, fotógrafo austríaco que, nos anos 1940, passou a documentar o Brasil de forma moderna, mas que nunca é lembrado no grupo de estrangeiros que marcaram a fotografia brasileira.

O lançamento de "Refúgio do Olhar", livro que traça um panorama dos primeiros dez anos de atividade profissional do fotógrafo, começa a preencher o buraco que é a história de imigrantes da Europa Central que retrataram o país há 70 anos.

Filho de judeus da classe média de Viena, o então estudante de medicina fugiu com sua família após a anexação da Áustria pela Alemanha nazista, em 1938.

No ano seguinte, já no Rio de Janeiro, Klagsbrunn desenvolveu a afinidade que tinha pela fotografia.

ARQUIVO MONUMENTAL

"O arquivo do fotógrafo é monumental, possui mais de 120 mil documentos", afirma o historiador Mauricio Lissovsky, 55, que organizou a publicação, ao lado de Marcia Mello, incentivados pelos sobrinhos do austríaco.

Muitas das fotografias de Klagsbrunn retratam a modernização da imagem das elites brasileiras, sobretudo, da sociedade carioca.

No calçadão da praia de Copacabana ou no Jockey Club da Gávea, pessoas da sociedade do Rio mais pareciam estrelas de Hollywood.

O frescor da moda nas praias se completava com os glamorosos trajes finos em bailes e corridas de cavalos.

A atuação de Klagsbrunn, no entanto, não ficou restrita às elites.

Ele foi o fotógrafo oficial do movimento estudantil, aderiu a manifestações antifascistas e registrou também cenas da vida política brasileira, como as visitas ao país do general americano George Marshall (1880-1959) e da primeira-dama argentina Evita Perón (1919-1952).

Sem a mesma penetração dos fotógrafos franceses no meio artístico, Klagsbrunn teve que diversificar seus campos de atuação.

As 250 fotografias que compõem o livro são registros institucionais, de eventos sociais e imagens publicitárias.

Mas há, ainda, retratos de artistas como o cineasta Orson Welles, a atriz Bibi Ferreira e o arquiteto Oscar Niemeyer, além de reportagens para as publicações americanas "Life" e "Time".

No Brasil, trabalhou para a refinada "Sombra", mas não participou de "O Cruzeiro".

LACUNA

Na avaliação de Lissovsky, o fato de o austríaco não ter publicado fotos nas páginas de "O Cruzeiro", que revolucionou o fotojornalismo brasileiro, pode explicar por que seu nome não figura no mesmo rol em que estão grandes fotógrafos como Pierre Verger (1902-1996) e Marcel Gautherot (1910-1996).

A década presente em "Refúgio do Olhar" termina, coincidentemente, com a cobertura do "maracanazo" da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil perdeu a final para o Uruguai.

Que o reconhecimento tardio do trabalho de Klagsbrunn, morto em 2005, não se transforme em maldição.


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