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Televisão

Novelistas expõem lado ridículo da fama

Autores de "Sangue Bom" lançam mão da comédia para criticar, na Globo, a cultura do "famoso por ser famoso"

Maria Adelaide Amaral afirma que o "crescendo intolerável" da era das celebridades derivou da moda dos reality shows

SILVANA ARANTES DE SÃO PAULO

"É rindo que se castigam os costumes." A novelista Maria Adelaide Amaral invoca o mote da comédia para fazer uma crítica séria em "Sangue Bom" (Globo, 19h), que ela escreve com Vincent Villari.

Os que buscam a fama "sem mérito nem trabalho" são o alvo dos autores. O fato de a Globo ser peça importante na engrenagem que alça participantes de reality shows a celebridades não afeta, diz ela, a "liberdade de contar".

Em entrevista feita em sua casa, em São Paulo, Amaral falou sobre maus atores, Comissão da Verdade e disse que Dilma está "na corda bamba", entre a obrigação de apurar os crimes da ditadura e o jogo de composições partidárias. Leia trechos.

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Folha - Como vocês definem a trama de "Sangue Bom"?

Vincent Villari - É a questão do "ter" versus o "ser" tratada no amor entre Bento (Marco Pigossi) e Amora (Sophie Charlotte). Ele valoriza as relações afetivas, e ela, a segurança material. Eles se amam, e um tenta trazer o outro para seu mundo, mostrando suas vantagens.

Maria Adelaide Amaral - Por ser uma história entre "ser" e "ter", enseja que falemos sobre as celebridades, a fama e essa loucura que virou o foco em torno da exposição. A questão é quando as pessoas querem ser famosas por ser famosas, sem nenhum mérito, nenhum trabalho.

Tenho profundo desprezo por jovens atores que creem que a fama basta e que não precisam fazer mais nada. Isso se agudizou a partir dos anos 1980. Foi num crescendo intolerável. Aí vieram os reality shows, que favorecem a afluência e a notoriedade de pessoas que realmente...

Apesar de que, de alguns reality shows saem pessoas como o [deputado] Jean Wyllys [PSOL-RJ].

Villari -...E a Grazi, que acho uma ótima atriz.

Amaral - A Grazi, uma ótima atriz, uma moça esforçada. A própria Sabrina Sato. Ela rala, ela trabalha à beça. A gente tem respeito.

Agora, não é porque você trabalhou num reality show que você... Você tem que provar que é mais do que isso.

Vocês criticam o universo das celebridades na Globo, que alimenta essa indústria. Que limites lhes são impostos?

Amaral - Ninguém impõe limites. Seria difícil. Evidentemente, é uma novela das sete. A gente pega pelo lado cômico, do ridículo. Essa é uma prerrogativa de um criador, de um autor --ter liberdade para contar.

Desde a era elisabetana, no Globe Theatre o lema era "é rindo que se castigam os costumes". A gente segue essa que é uma linha da comédia. E com toda a liberdade.

A questão fundamental neste país é a educação. É uma tragédia nacional, que começa com os militares e prossegue com toda a indiferença dos poderes constituídos. Culpam-se os militares, que realmente iniciaram o processo da degradação da escola pública. Entretanto, os chamados governos democráticos não fizeram rigorosamente nada.

Como avalia o trabalho da Comissão da Verdade?

Amaral - Tenho profundo respeito pelas pessoas envolvidas, mas acho que houve uma composição, infelizmente. Isso deveria ter começado quando terminou a ditadura. Quem deveria ter sido punido não foi.

Não se fez o que deveria ter sido feito. Aqueles governantes deveriam ter sido submetidos a julgamento. A gente sabe por que não foi feito. Por causa da Lei da Anistia e porque parte das pessoas que ocupavam cargos de mando na ditadura continuam aí até hoje.

Você vê gente altamente comprometida ocupando cargos no poder hoje. Acho da maior importância que a comissão vá fundo e revele a verdade, dê nome aos bois.

Em sua opinião, que papel cabe a Dilma nesse processo?

Amaral - Ela foi torturada. Ela, mais do que ninguém, deve estar muito interessada em que se apure.

Mas ela está na corda bamba. Se, por um lado, tem histórico de integridade, por outro lado, tem alianças partidárias. Ela sabe que a base do governo é composta por algumas pessoas que participaram da ditadura, que foram omissas ou cúmplices.

Mas o que ela vai fazer? Não queria estar na pele dela.


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