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"Não quero só blockbusters", diz Neschling
Programação montada por novo diretor do Municipal de SP intercala peças contemporâneas e partituras consagradas
Maestro pretende firmar coproduções com teatros do circuito internacional, como o londrino Opera House
O Theatro Municipal de São Paulo "precisa de dois ou três anos" para se tornar uma referência no circuito internacional de óperas, aposta John Neschling, diretor artístico da casa desde fevereiro.
A exemplo da trajetória que traçou para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo entre 1996 e 2008, o maestro tem para o Municipal um plano ambicioso.
"Até agora tive toda a confiança e o apoio da prefeitura, embora eu tema que eles não tenham ainda total noção da grandeza do projeto."
Sua assinatura começa a se desenhar hoje, com a estreia de "The Rake's Progress", ópera de Stravinsky com direção de Jorge Takla. É o primeiro espetáculo previsto por Neschling para este ano (veja ao lado).
Em entrevista à Folha, o maestro diz que a escolha do título foi determinada pela diretriz que ele deseja imprimir a sua gestão (o contrato é de quatro anos, prorrogáveis): intercalar peças desconhecidas do grande público com "os blockbusters".
"Rake's' não é uma obra popular, mas é, ao mesmo tempo, uma das obras-primas do século passado", diz. "Queria muito que essa estreia fosse entendida como uma afirmação estética. Queremos montar aqui obras contemporâneas", completa.
"The Rake's Progress" não entrou a tempo para o roteiro da temporada de assinaturas, posta à venda na semana passada. "Aida", de Verdi, abrirá a programação em agosto, seguida por "Don Giovanni", de Mozart (setembro), e uma sessão dupla com "Jupyra", de Antônio Francisco Braga, e "Cavalleria Rusticana", de Pietro Mascagni (prevista para outubro).
"Ópera brasileira composta no final do século 19, Jupyra' certamente ninguém conhece, mas considero uma grande música. Juntei com a Cavalleria', um best-seller. Queria atrair público para ver as duas peças", explica.
Para esta temporada lírica, ainda estão previstas as montagens de "O Ouro do Reno", de Wagner, e "La Bohème", uma das óperas mais conhecidas de Puccini.
Neschling pretende privilegiar encenações que fujam do formato "tradicionalista". "O público precisa de linguagens multimidiáticas, porque você tem hoje acesso a linguagens muito atraentes na TV, no cinema. Se você insiste em óperas como as do século 19, acaba não despertando o interesse dos jovens."
Para os próximos anos, também prevê coproduções com teatros internacionais, entre eles a Ópera de Roma e a Royal Opera, de Londres. "Estamos começando a fazer contratos para daqui a dois, três anos. Os grandes teatros pensam com três anos de antecedência. No Brasil é que pensamos com seis meses."