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Comparado nos EUA a Beckett, Will Eno ganha encenação em SP

Em tom de piada, dramaturgo diz que escreve misturando voz "ancestral" à de Dilma Rousseff

Finalista de Prêmio Pulitzer fala à Folha sobre seu método de criação e sobre misturar comédia ao drama

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Charles Isherwood, crítico de teatro do jornal americano "New York Times", disse que o dramaturgo Will Eno era "um Samuel Beckett para a geração de Jon Stewart".

Comparava-o, em primeiro lugar, a um dos mais importantes dramaturgos do século 20 e, depois, ao apresentador de TV e comediante americano, espécie de David Letterman, cuja carreira decolou na MTV, nos anos 1990.

Esta é uma boa pista para entender a dramaturgia de Eno, cujos textos "Temporada de Gripe" e "Thom Pain - Based on Nothing" já ganharam encenações de Felipe Hirsch, respectivamente em 2003 e 2006; agora, seu "Ah, a Humanidade" entra em cartaz com Guilherme Weber sobre o palco e Murilo Hauser como diretor (leia abaixo).

Eno transita por gêneros e, se levarmos em consideração o elogio do crítico Isherwood, ele cria atmosferas entre a tragédia iminente e a comédia com traços de crônica.

Diz, em entrevista à Folha, que prefere, no entanto, ver sua obra como uma "terceira coisa" entre os gêneros. "Isso acontece por meio de técnica mas também por um simples desejo de fazer algo que seja tanto lógico quanto surpreendente. A natureza é lógica e surpreendente."

A bem da verdade, Eno opta por desconsiderar a existência do drama ou da comédia. "Pode soar pretensioso, mas acho que, quanto mais próximo você chega da simplicidade ou da verdade, mais as coisas engraçadas e tristes acabam vindo."

A comparação com Jon Stewart remete ainda a um tipo recorrente na galeria de personagens de Eno: o de sujeitos que falam para uma audiência. No caso de "Ah, a Humanidade", suas cinco histórias são criadas a partir de situações próximas a coletivas de imprensa.

Para criar seus personagens, Eno muitas vezes pensa em determinado ator dizendo aquelas palavras, "mas sempre leio tudo em voz alta enquanto trabalho", diz. "Faço provavelmente uma combinação estranha de vozes na minha cabeça, o som ancestral das palavras com a voz de Dilma Rousseff", brinca.

DIÁLOGO COM A PLATEIA

"Thom Pain", a peça que colocou Eno entre finalistas do Prêmio Pulitzer em Drama, em 2005, tem similaridades com "Ah, a Humanidade", justamente porque seus personagens dialogam diretamente com a plateia.

Isso tornaria o público um personagem à parte? "Sim", diz ele. "Sempre senti que o rosto das pessoas na plateia forçava meus personagens numa direção", argumenta. "Meus personagens enxergam a beleza, o sofrimento, a curiosidade no rosto do público e sentem a necessidade de falar sobre isso."

Mas há também diferenças entre os dois textos. O personagem central de "Thom Pain" aborda problemas existenciais "quase o tempo todo", diz. "Ele tem mais domínio filosófico, mas é terrível em aspectos práticos da vida". Em Ah, a Humanidade", ao contrário, os personagens demonstram mais tranquilidade diante dos fatos, "não são grandes filósofos, então quando a vida os confunde, eles não recorrem à filosofia".

Ao falar de sua geração de autores nova-iorquinos ("ou do teatro pelo mundo"), Eno acha que o teatro reflete sempre "algo quieto e profundo". "Quando sentimos a necessidade de encarar coisas difíceis com honestidade, um certo tipo de teatro nos resgata. Quando há realidade demais na vida, outro tipo de teatro se torna popular. Não sei onde estamos. Provavelmente entre um e outro."


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