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Tramas expõem fragilidade em meio ao caos

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Murilo Hauser surgiu do nada na Cia. Sutil, limpando o chão em que os atores ensaiavam "Temporada de Gripe", de Will Eno, há mais de dez anos. Quando foi notado, não se abalou: "Estou ajudando", respondeu ele, que ganhou apelido de marciano no grupo e, com o tempo, transformou-se no braço direito de Felipe Hirsch.

Hauser faz seu primeiro voo solo na direção com "Ah, a Humanidade! e Outras Boas Intenções", espetáculo apresentado no Festival de Curitiba de 2012, que iniciou temporada ontem em São Paulo, com um novo elenco, formado por Guilherme Weber, Celso Frateschi, entre outros bons atores.

Composta por cinco cenas curtas, a obra escrita por Will Eno apresenta personagens que se revelam frágeis e solitários ao se exporem de modo desmedido em situações.

Na primeira história, por exemplo, um treinador de time de futebol rompe o código de comunicação em uma coletiva de imprensa ao se abrir emocionalmente para os jornalistas.

"Essas pessoas comuns em condições fora do comum tentam, pela via de uma entrega sem limites, alcançar outro alguém. Falham em público numa constante quebra de protocolos, expondo as suas feridas", diz Hauser.

Temática reincidente na obra de Eno, a falência das narrativas permeia as cinco histórias da peça.

"Personagens estão imersos em situações de narrativas dramáticas, mas os códigos narrativos de cada situação não são suficientes para o turbilhão de sentimentos em que eles estão envolvidos", explica Weber, que acredita ser o ator que mais deu vida aos personagens de Eno em cena --além de atuar em "Ah, a Humanidade!...", participou de "Temporada de Gripe" e "Thom Pain".

"Como grande discípulo de Edward Albee e Samuel Beckett, Eno investiga não só a condição humana, mas o veículo que escolheu para se expressar, aprofundando e reinventando seus temas-fetiche a cada obra", explica o ator.

As cinco histórias se desenrolam num impressionante cenário-instalação, assinado por Valdy Lopes JN e Rafael Faustini, que evoca grandes catástrofes. Ao redor de um poste caído sobre o palco, há um emaranhado de objetos que parecem ter sido arrastados ali pela fúria da natureza.

"Foi quase impossível não associar a devastação emocional, a fragilidade e a vulnerabilidade dos personagens com a situação instável do mundo composta por desastres naturais, manifestações, mudanças estruturais e de pensamento", diz Hauser.


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