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Crítica - Ensaio

Com humor, autor faz retrato atual da sociedade americana

RODRIGO LEVINO ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Num ensaio publicado em 1945 em que tratava da decadência da linguagem, George Orwell alegava que "toda a tendência da prosa moderna é se afastar da concretude". Ensaísta consagrado, Orwell atacava a falta de clareza nas palavras e o que chamava de "abismo entre nossos objetivos declarados e os reais", o que era prejudicial ao leitor.

Quase 70 anos depois, o americano John Jeremiah Sullivan aparenta, em seu livro "Pulphead", lançado agora no Brasil, ter sido um leitor dedicado de Orwell. Em 14 ensaios, ele demonstra um apreço incomum por clareza e sinceridade, alicerçado em características fundamentais do gênero --a valorização da experiência individual, a reflexão filosófica e o didatismo.

Ao talento visível para a ficção, que dá ritmo impecável às narrativas, se une um apurado senso de humor, a curiosidade e o respeito a todo personagem como fonte de conhecimento.

A tudo ele se dispõe a escrutar em busca de empatia que, quando alcançada, é imediatamente repassada ao leitor. Quando escalado para cobrir um festival de música cristã, por exemplo, confessa que seria muito fácil desdenhar do que consideraria o retrato clássico de interioranos dominados pela religião.

Mas Sullivan se furta dos clichês e dos estereótipos. Movido pela certeza de que há algo lá, ele deixa a zona de conforto e descobre pessoas marcadas pela violência, em busca de uma experiência real numa sociedade de aparências. Por fim, confessa uma improvável ligação com aquele universo, resgatada por uma memória longínqua.

Em cada um dos personagens com que vai cruzando ao longo do livro, Sullivan encontra um ponto de contato com sua vida e desenha um retrato atual da sociedade americana. Sempre tendo como ponto de partida o olhar desassombrado de um intelectual para quem erudição e mundanidade são faces da mesma moeda.


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