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Crítica - Drama
Produção espanhola quer sensibilizar com molde hollywoodiano
Premiado, 'A Voz Adormecida' conta saga de irmãs que sofrem com as consequências da Guerra Civil Espanhola
Andam falando por aí que o cinema espanhol vive uma boa fase. Seria isso uma realidade? Não se a compararmos à verdadeira boa fase, entre os anos 1960 e 1970, quando diretores como Carlos Saura, Victor Erice e Luis García Berlanga realizavam grandes filmes.
"A Voz Adormecida", longa baseado no último livro de Dulce Chacón (escritora espanhola morta em 2003) e um dos mais elogiados da safra recente, é um produto de prestígio nos moldes hollywoodianos, um daqueles dramas com peso histórico que levam os espectadores às lágrimas.
O filme, que é de 2011 e portanto chega ao circuito com certo atraso, foi indicado para nove prêmios Goya (o Oscar do cinema espanhol), e ganhou três: melhor atriz revelação (para María León, que realmente está impressionante), melhor canção original e melhor atriz coadjuvante (Ana Wagener).
Entende-se o porquê de tantas indicações: é um produto calculado para ganhar prêmios e encantar plateias pelo mundo.
Esse cálculo é implacável, pois o filme trabalha com um tema nobre: as consequências da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) na vida de duas irmãs, vítimas da brutalidade e da intolerância do novo regime anticomunista.
Uma delas, Hortensia (Inma Cuesta), foi presa pela polícia de Franco, o caudilho, pois seu marido é um dos rebeldes. A outra, Pepita (María León), acaba se envolvendo com a resistência, mesmo sem ter posição política definida.
BOA DIREÇÃO
O diretor Benito Zambrano filma corretamente, com uma fotografia que impressiona, especialmente nas cenas passadas dentro do presídio, e uma direção de atores eficiente.
Com isso, ele consegue imprimir um tom exato às aflições das personagens.
Mas quando notamos que sua intenção é nos sensibilizar a qualquer custo, apoiando-se em certos clichês de dramas históricos premiados anteriormente, começamos a adivinhar tudo o que vai acontecer.
A previsibilidade do roteiro neste caso atrapalha, pois é mais um dado a contribuir com uma sensação incômoda de déjà vu, que a língua espanhola encobre apenas parcialmente.