Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Vitor Ramil lança disco e songbook bancados por fãs

Contribuições de 865 admiradores permitem a gaúcho tirar projetos do papel

Milton Nascimento, Ney Matogrosso, o uruguaio Jorge Drexler e o argentino Fito Páez participam do álbum

(RODRIGO LEVINO) EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Baseado em Pelotas, a 271 km de Porto Alegre, longe demais das capitais e onde seria praticamente inviável manter uma carreira de projeção nacional, o cantor, compositor e escritor Vitor Ramil, 52, mais parece um ponto de resistência.

Desde o começo dos anos 1990, quando voltou de longa temporada no Rio para a cidade onde nasceu, o artista mantém uma carreira prolífica, independente e alimentada por uma base fiel de fãs.

Fidelidade essa que foi posta à prova no ano passado, quando Ramil se lançou numa experiência até então inédita em sua trajetória: a de crowdfunding, financiamento coletivo pela internet.

A proposta era produzir um songbook com 60 de suas canções e um disco duplo com 32 delas ("Foi no Mês que Vem"), o décimo de sua carreira. Em três meses, 865 fãs de oito países toparam. O montante arrecadado chegou a R$ 85 mil, R$ 15 mil a mais do que pedira.

"Tinha medo de que parecesse caro. Vi que muitos projetos do tipo não deram em nada pelo que, acho, era excesso do artista", disse ele à Folha por telefone, sobre as cotas que iam de R$ 10 a R$ 30 mil. "Foi algo sobre o qual pensei bastante até encontrar um termo que achei que seria justo."

A resposta não chegou a impressioná-lo, embora o tenha enchido de gratidão.

A carreira de Ramil é repleta de histórias curiosas relacionadas a fãs. Como a de uma senhora que comprava caixas de discos seus para mandar a lojas em cidades onde não era possível adquiri-los, só para que a obra dele fosse mais conhecida.

Seu processo de criação musical mais lembra o de escritores, de recolhimento e depuração do próprio repertório, rearranjando-o, encontrando outros modos de cantá-lo e tocá-lo. "Minha ideia era gravar um disco inteiramente acústico, mas, aos poucos, percebi que poderia soar só como acessório do songbook. E não era isso, podia ser algo maior", conta. E foi.

Entre convidados como Milton Nascimento, Ney Matogrosso, o uruguaio Jorge Drexler, os argentinos Fito Páez e Pedro Aznar, canções marcantes da carreira de Ramil como "Estrela, Estrela", "Loucos de Cara", "Astronauta Lírico" e "Neve de Papel" foram reinterpretadas com arranjos voltados sobretudo para o violão, seu instrumento de predileção.

"A própria escolha das músicas se deu muito pela afinidade que cada uma delas tinha com o instrumento", conta, sobre o trabalho de garimpagem que o permitiu "cortar excessos", como chama a miríade de baixos, baterias e teclados, substituídos por violões de afinações variadas, timbres cristalinos, além de percussão e cordas.

É, de certo modo, a radicalização do que se anunciava em "Délibáb", disco de 2010, em que dividia com o violonista argentino Carlos Moscardini os arranjos dos poemas que musicou do argentino Jorge Luis Borges e do gaúcho João da Cunha Vargas.

Como o disco anterior, "Foi no Mês que Vem" foi gravado em Buenos Aires e mixado nos EUA. "É um trabalho de fronteiras abertas", diz. Fito Páez gravou sua participação em casa, na companhia do cantor, em Buenos Aires; Jorge Drexler, num quarto de hotel durante uma breve passagem pelo Uruguai (ele vive na Espanha). Do Rio, vieram as vozes de Ney Matogrosso e Milton Nascimento.

Ramil tem ainda a companhia de Ian e Isabel, seus filhos, ela lendo um trecho em francês do escritor Paul Valéry, na canção "Noa Noa".

"Já me disseram que formei meu pequeno Clube da Esquina. Tem um pouco a ver", compara ele.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página