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Uso de mortos na arte tem raiz no século 16

DE SÃO PAULO

Não é de hoje que cadáveres saem de câmaras mortuárias para entrar nos museus. Nos anos 1990, o alemão Gunther von Hagens fez fama (e despertou a ira) mundial com exposições de corpos plastinados, técnica criada por ele para preservar tecidos humanos como se fossem plástico.

As mostras no mundo todo receberam cerca de 26 milhões de pessoas, mas Von Hagens teve de se explicar às autoridades por suspeitas de que os corpos eram comprados de modo ilegal na Rússia ou desviados de prisões no Quirguistão e na China.

Religiosos católicos e judeus também repudiaram sua prática, alegando falta de respeito pelo corpo humano.

Mas Von Hagens tinha um precedente histórico no século 16, quando o médico belga Andreas Vesalius, considerado o pai da anatomia, publicou seu "De Humani Corporis Fabrica", em que corpos dissecados também posavam com a desenvoltura de modelos diante de um retratista.

Sem cadáveres de verdade, a morte reapareceu na arte contemporânea evocada por autores em alusões mais ou menos gráficas e potentes.

Em 1970, auge da repressão do regime militar no Brasil, o artista Artur Barrio espalhou 14 trouxas ensanguentadas, tecido envolvendo carne de boi, ao longo de um rio em Belo Horizonte.

Seus 20 quilos de carne camuflados, uma alusão aos torturados e desaparecidos na ditadura, acabaram sendo levados para análise pela polícia, que concluiu se tratar de bife já em putrefação.

Num de seus trabalhos mais controversos, o artista e arquiteto Flávio de Carvalho retratou numa série de desenhos de teor expressionista o rosto de sua mãe agonizando. Não tem o aspecto físico da carne, nem a presença de corpo algum, mas o trabalho causou polêmica por estetizar um momento de dor e expor o que teria sido testemunhado só pelo filho da morta, convidando uma plateia indesejada ao leito de morte.

É uma versão sutil do voyeurismo em torno de Cristo na obra de Baldessari.


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