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Crítica - Drama

Ator conta tudo sem falar nada no teatro gestual da Dos à Deux

Com interpretação esmerada de Luis Melo, monólogo 'Ausência' apresenta um mundo pós-apocalíptico

MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO

Um drama sem palavras. O espetáculo "Ausência", peça da companhia franco-brasileira Dos à Deux interpretada pelo ator Luis Melo, conta uma história futurista sem precisar recorrer ao discurso.

A inexistência de signos verbais --a única fala é um brevíssimo texto reproduzido por meio de uma gravação-- como forma de compor um teatro gestual não dificulta a compreensão da narrativa, bem delineada pelas ações executadas em cena.

Pelo programa da montagem, pode-se descobrir a localização espaçotemporal do enredo: o dia 4 de abril de 2036 em um edifício localizado na cidade de Nova York.

Essa informação naturalmente acrescenta elementos extras para apreciação, mas está longe de ser essencial para compreender a peça, haja vista que a representação do cenário, figurino e trama remetem de imediato a um universo pós-apocalíptico.

A cenografia concebida por Fernando Mello da Costa tem encanamentos enferrujados que cruzam todo o palco, criando uma atmosfera sombria e decadente. As vestimentas negras desbotadas do personagem aludem a uma estética neopunk.

A maquiagem pesada retrata a fome e a sede sofridas pelo protagonista.

A interpretação de Luis Melo é desenvolvida por meio de uma linguagem corporal que alterna movimentos amplos, expansivos, de tronco e braços, com gestos contidos e sutis produzidos pelas mãos.

Sua expressão facial é exata e atravessa todas as modulações de humor possíveis: o desespero diante do racionamento de água, a ternura com seu peixinho vermelho, o sadismo na tortura dos ratos.

Os diretores André Curti e Artur Ribeiro trabalharam com eficiência os conceitos de dramaturgia visual e paisagem sonora.

O desenho de luz e a música pontuam as cenas não como elementos secundários, mas como recursos narrativos centrais, contadores de história que ajudam o ator a dizer tudo --sem falar nada.


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