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Crítica - Drama

'Hamlet' deixa viés político compreensível ao espectador

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Hamlet" lida com o embate entre a mentalidade feudal medieval e as virtudes cívicas do Renascimento. O príncipe fracassa perante o desafio de conciliar os valores humanistas e o pedido anacrônico do espectro do pai de vingá-lo.

Focando na trama sobre o fim de um mundo autocrático, a montagem de Marcio Aurelio segue um viés político. Com uma estética que remete ao cordel, com soluções plásticas sintéticas e traços fortes, torna essa proposta inteligível para o grande público.

A cenografia (Aurelio) é simples, mas eficaz. Cortinas pretas nas paredes são trocadas por vermelhas quando o conflito acirra. Um andaime com porta metálica faz referência à contemporaneidade e é utilizado para muitas das célebres cenas. Algumas são visualmente interessantes, como a aparição do espectro do pai ou a encenação da peça que revela o assassinato. O uso de microfones reforça o despotismo de Cláudio (Marco França) e a revolta de Hamlet (Joel Monteiro).

Mais metafórico ainda é o figurino (Aurelio e Lígia Pereira). Estabelece desde a primeira cena que o reino da Dinamarca é um regime militar e, o novo rei, um ditador.

No final do espetáculo, o civismo de Hamlet e Horácio (Dudu Galvão) se traduz em roupas civis. A maquiagem --caras brancas da elite e natural dos humanistas-- rende efeito quando Hamlet tira do rosto de Ofélia (Titina Medeiros) a máscara da mentira.

O elenco dos Clowns de Shakespeare trabalha bem o tom de farsa e é virtuoso nos números de música ao vivo, com destaque para o rei e Polônius (César Ferrario).

Só o dilema de Hamlet e sua dimensão psicológica não couberam dentro da proposta conceitual. Embora o recorte dramatúrgico realce a importância de sua loucura para desmascarar a ditadura, e Monteiro convença no papel de louco, cenas importantes, sobretudo aquelas com o pai ou com Horácio, ficaram planas e sem solução cênica adequada. Isto não tira o mérito da abordagem política por meio do enfoque no autoritarismo, ou da estética popular que a faz perceptível.


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