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Crítica - Documentário

Filme revela Brasília alheia a luxo de Niemeyer e da política

'A Cidade É uma Só?', de Adirley Queirós, levou prêmio do júri de Tiradentes

ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHA

Nem escândalos políticos nacionais, nem vidraças e belos arcos de Oscar Niemeyer, nem o sucesso de Renato Russo. A Brasília que "A Cidade É uma Só?" retrata é outra, a do brasileiro comum e pobre que mora na capital da República.

Em vez dos gramados sem fim da Esplanada e das conchas do Congresso, o cenário é de poeira e pobreza. Como diz a cantora Nancy, que sabe das coisas, "a pobreza é feia" --e, por isso, expulsa dos centros e alijada para a periferia.

Em vez de políticos engravatados e políticas bem maquiadas, os personagens são a gente que mora em casas descascadas, come pastel na rodoviária, dorme exausta em ônibus nojentos, faxina o chão dos poderosos durante a semana e bebe pinga em torno de fogueiras no domingo.

O foco é Ceilândia, cidade-satélite criada nos anos 1970 para higienização social: a propaganda oferecia "um novo bairro" para moradores pobres, mas a intenção era retirar do trajeto dos aviões a visão desagradável da favela do Urubu e da Vila do Iapi.

Veja só: Cei, de Ceilândia, significa "Campanha de Erradicação das Invasões". Miserável era, miserável continua através das décadas.

Não falta ao documentário o ingrediente político-eleitoral: Dildu, candidato do "Partido da Pressa Nacional" à Assembleia Distrital, percorre ruas empoeiradas com seu carro velho, santinhos e jingle, pregando para o nada.

A grande cena é a chegada da campanha de Dilma, com caminhão enorme, fila de carros a perder de vista e bandeiras vermelhas dominando Ceilândia. Ao lado, Dildu caminha sozinho. E de costas.

Uma forma de cinema tão contundente quanto a crítica política e social à capital e ao próprio país. Ceilândia não é exclusividade de Brasília.


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