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Opinião

As 323 páginas amareladas que influenciaram a década de 1990

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR COLUNISTA DA FOLHA

As bordas das páginas oxidadas, que baque. Papel amarelo, quebradiço, deveria ser coisa de livro antigo, lido na adolescência ou aos 20 e poucos, daqueles que ficaram na casa dos pais e a gente promete um dia ir buscar quando tiver mais espaço na vida e nas estantes.

Mas as páginas escurecidas que vi esta semana não vinham de um passado profundo, daí o choque. Eu as li adulto --na minha cabeça, anteontem. Trezentas e vinte e três páginas emocionantes, uma influência enorme para minha geração.

Falo de "Alta Fidelidade", primeiro romance de Nick Hornby. Tenho comigo a edição da Riverhead, americana, capa mole, agosto de 1996. Comprei por indicação, acho, da revista "Esquire".

Em 2/12/1996, escrevi uma resenha no "Folhateen": "Popmaníacos Veem a Vida Passar ao Longe". Acho que foi a apresentação ao Brasil do romancista Hornby.

O livro trata de três obcecados por música e cultura pop que trabalham em uma loja de discos no norte de Londres: o dono, Rob Fleming, 36, e seus dois empregados, Barry, 33, e Dick, 31.

Numa época pré-internet, em que memória valia muito, passam o dia se desafiando com listas-de-cinco. As cinco melhores faixas um do lado um de qualquer álbum, cinco bandas ou artistas que deveriam ser fuzilados no caso de uma revolução musical etc.

Rob tem resquícios de vida pessoal. Acabou de levar um toco da namorada.

Barry e Dick, não. A vida deles é a loja. Divertem-se maltratando os poucos clientes, pobre de quem pedir um disco de que eles não gostam.

Rob faz uma lista-de-cinco própria: os cinco maiores foras que levou. E decide ir atrás dessas mulheres (sem redes sociais, uma missão e tanto).

Com precisão, lirismo e leveza nunca pueril, os romances de Hornby falam dos temas que importam: música, livros, mulheres, futebol, solidão, suicídio (este último, tema de "Uma Longa Queda", de 2005).

Ele se mantém relevante e atual, também como crítico. Há muitos anos escreve uma coluna para a revista literária "Believer", "Stuff I've Been Reading" (coisas que ando lendo).

Em uma tentativa frustrada de entrevista com Hornby, em 2001, em San Francisco, acabei ganhando, pelo menos, um autógrafo.

Esta semana, abri os 12 volumes que tenho dele, em busca da assinatura célebre. Ela estava em "Febre de Bola" (1996), uma coletânea de textos curtos sobre a paixão do autor pelo clube Arsenal.

Não é uma dedicatória das mais inspiradas, mas está lá, em caneta preta de escrita grossa: "To Alvaro, best wishes, Nick Hornby".

Respondo 12 anos depois: "Same to you, Nick." Bem-vindo de volta ao Brasil.


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