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'Satã' faz de Pellizzari um escritor irlandês

CASSIANO ELEK MACHADO DE SÃO PAULO

"Daniel Pellizzari é o maior escritor sérvio da literatura brasileira. Além disso, é também o maior escritor argentino da literatura brasileira. E ainda arruma tempo para ser o maior escritor russo da literatura brasileira."

Foi assim que o escritor Joca Reiners Terron apresentou Pellizzari, quando o autor gaúcho (nascido no Amazonas e hoje radicado em São Paulo) publicou seu primeiro romance, "Dedo Negro com Unha" (DBA), em 2005.

Sete anos, dez meses e catorze dias --2875 dias-- se passaram até que Pellizzari publicasse seu segundo romance, "Digam a Satã Que o Recado Foi Entendido".

A obra, lançada pela Companhia das Letras, mostra que Daniel Pellizzari, 39, mudou bastante. Com ela, passa a ser o maior escritor irlandês da literatura brasileira.

Não só pelos fatos aqui elencados: 1) o livro é ambientado em Dublin; 2) cita tantos lugares reais, obscuros ou famosos, da cidade, que seria possível criar um site só com suas referências no Google Maps; 3) personagens da mitologia celta, como a deidade pré-cristã Crom Cruach, pontuam toda a obra; 4) há mais cenas com "pints" de cerveja escura em pubs quase escuros do que em toda a ficção do Brasil.

Mais do que tudo isso, "Digam a Satã Que o Recado Foi Entendido" tem uma voz irlandesa. Ou várias vozes.

Polifônico (como as obras do maior autor irlandês, James Joyce), o romance tem seis narradores diferentes, quatro deles nativos, além de um polonês perturbado e um sujeito das Ilhas Maurício.

Os narradores se cruzam. Três deles trabalham numa agência de turismo especializada em lugares mal-assombrados --inventados por eles mesmos--; outros três militam numa seita celta (e ufóloga), que conspira para trazer de volta à Terra um antigo deus-serpente.

Pellizzari, o autor "irlandês", passou apenas 32 dias no país, e em 2007. Mas viveu parte da adolescência com os grossos óculos enfiados em livros e sites ancestrais sobre mitologia celta e temas congêneres. O ocultismo também não lhe é estranho.

"Digam a Satã..." ironiza ou faz escárnio com estes elementos. Como com quase tudo. Desajuste e desencanto, características dos personagens (e de muita literatura irlandesa), dão certo humor (negro) ao livro.

"É o humor do condenado gargalhando diante da forca", opina o próprio Pellizzari. "A risadinha de patíbulo, para conseguir lidar com coisas impossíveis de vencer."

É assim até com o amor, tema da coleção. "Onde há pessoas existem problemas, não consigo enxergar o amor escapando a essa lógica", diz.


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