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Espetáculo recupera o inferno de Sartre

'Huis Clos', peça escrita pelo filósofo francês nos anos 1940, ganha nova montagem, dirigida por Caco Ciocler

Com forte carga teórica, texto foi encenado no Brasil por Cacilda Becker, Sérgio Cardoso e Nydia Licia em 1950

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

"O inferno são os outros." Essa é uma das frases mais conhecidas do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), e quem faz a constatação a bem da verdade é um personagem criado por ele para o teatro nos anos 1940.

A sentença está na peça "Huis Clos", de sua autoria, cujo título já foi traduzido para o português como "Entre Quatro Paredes", embora o sentido mais próximo seja o da tradução para o inglês, "No Exit" ("Sem Saída").

Uma nova montagem, dirigida pelo ator Caco Ciocler, "No Exit "" Entre Quatro Paredes" está em cartaz no Sesc Santo André até domingo e, no mês quem vem, será apresentada também no Centro de Cultura Judaica.

INFERNO

Ao revelar para amigos a intenção de encenar o texto, Ciocler ouviu gente colocando em dúvida sua atualidade. Ronda "Entre Quatro Paredes", a bem da verdade, o estigma de um estilo estranho mesmo à dramaturgia feita na época em que a peça foi escrita. Seu conteúdo se aproxima de um ensaio filosófico.

Verborrágica e solitária na maré de peças realistas propagadas principalmente pelos escritores norte-americanos, a peça se aproxima demais de um caminho já mencionado por estudiosos de Sarte: em sua obra literária, ele tem por hábito tornar didáticas suas próprias teses.

A primeira encenação no Brasil teve interpretação de Cacilda Becker, Sérgio Cardoso e Nydia Licia, em 1950. Sartre começava a reverberar internacionalmente no meio artístico, no que se desdobrou até o fim dos anos 1960 em um modismo. Referir-se ao existencialismo, teoria filosófica desenvolvida por ele, tornou-se comum, senão banal.

Embora tenha sido proposto por Ricardo Grasson, tradutor da peça, o resgate do texto, conta Caco, encontrou ressonância também na coincidente e recente indicação de seu psicanalista, cujos palpites influenciaram outras escolhas do ator, como a peça "A Construção", em que ele atuou no ano passado.

Em "No Exit - Entre Quatro Paredes", um homem (José Geraldo Júnior) e duas mulheres (Sabrina Greve e Chris Couto) são confinados em uma sala sem espelhos, representação do inferno. Em um jogo de sedução e repulsa, os três vértices do triângulo expõem uma avalanche de medos e fraquezas.

DILEMA E APLAUSOS

Um fenômeno interessante nesta encenação do texto é que, ao final, por uma questão cênica que não cabe ser revelada aqui para não estragar surpresas, instaura-se na plateia a dúvida: aplaudir ou não. "Em geral, o público sai sem os aplausos", diz Ciocler. "Não gosto dos aplausos. Prefiro quando o público não quebra a sensação que se instaure ao final", conta.

Há, mais do que tudo, um mal-estar impregnando o conteúdo do espetáculo, especialmente pela catarse provocada por uma possível identificação com o dilema: sair ou não do inferno? Se é que essa opção existe.

Paralelamente à peça, Ciocler começa a se dedicar agora ao projeto de um documentário, sobre Aracy Guimarães Rosa (1908-2011), que foi mulher do escritor João Guimarães Rosa e se comprometeu, em seu tempo, com uma questão: ajudar judeus a fugirem do nazismo alemão para o Brasil.


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