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Cineasta mostra Palestina por lente regional

Para Emad Burnat, autor de documentário indicado ao Oscar, nada mudou depois de 'Cinco Câmeras Quebradas'

'Só falam sobre o filme, mas não me dão apoio', diz o diretor, que filmou situações de conflito em vilarejo na Cisjordânia

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A BILIN (CISJORDÂNIA)

Quando chegar ao Brasil, no início de agosto, o cineasta palestino Emad Burnat trará consigo o premiado documentário "Cinco Câmeras Quebradas" e, no rastro, a fama que reuniu com a obra, indicada ao Oscar de 2012.

O filme será um dos destaques da 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, organizada pelo ICArabe entre 15 de agosto e 16 de setembro.

Burnat viaja com a consciência de que "quando viram o filme, as pessoas se tornaram diferentes" --mas também com a certeza de que, passados dois anos do lançamento, nada mudou.

"Agora todos me conhecem, mas minha situação econômica continua a mesma", diz à Folha, no vilarejo palestino de Bilin. "Ainda moro nesta mesma casa."

"Sinto que só falam, falam e falam sobre o filme, mas na prática não me oferecem apoio político ou financeiro."

Burnat registrou, em "Cinco Câmeras Quebradas", as manifestações dos moradores da vila contra a construção de uma cerca e, depois, de um muro separando-os de um assentamento israelense.

Durante seus anos de luta, o cineasta testemunhou --e filmou-- a morte de amigos e perdeu cinco filmadoras, daí o título do documentário, cuja direção inclui o israelense Guy Davidi.

"Pensei que, pelo impacto do filme, seria mais fácil continuar minha vida, meus projetos. Mas segue difícil."

LAÇOS ESTREITOS

A porta da casa de Emad Burnat, em um vilarejo remoto nos territórios palestinos, é decorada com a pintura da bandeira brasileira.

É a nacionalidade de sua mulher, e é também a seleção da camiseta vestida por seus filhos quando eles recebem a reportagem da Folha.

"Deve ser um lugar doce", diz o pequeno Jibril, animado com as próximas semanas. Sua família se prepara para viajar a São Paulo.

A viagem ao país com que eles têm afinidade, porém, não inclui planos de se estabelecer ali por um longo prazo. "Estamos ligados a esta terra", diz Burnat.

A relação com o solo, porém, inclui a dor pelas agruras da vida agrária na região. Cercada por assentamentos, e com diversos obstáculos à movimentação, tornou-se inviável viver da terra ali. "Não há espaço suficiente para plantarmos, e sobreviver é um desafio diário", afirma.

O discurso de Burnat, que só aceitou encontrar-se com a reportagem por um período curto, devido ao jejum do mês sagrado do ramadã, é permeado pelas referências à natureza. Assim como sua proposta estética, em "Cinco Câmeras Quebradas", é a favor de uma arte espontânea.

Ele não estudou cinema e diz não ter planos de aperfeiçoar a técnica. "A experiência é suficiente para mim", afirma. Burnat quer, porém, criar uma academia de cinema em Bilin, para ensinar a arte às novas gerações locais.

Apaixonado por câmeras desde pequeno, Burnat tomou a si a tarefa de filmar a vila quando percebeu que "a filmadora iria nos proteger".

Ele reuniu mais de 700 horas de gravações, e parte do material foi utilizado em tribunais como evidência. "O Exército sempre mente", diz. Uma das imagens de "Cinco Câmeras Quebradas" mostra um soldado atirando nas pernas de um civil rendido.

A filmagem foi também uma maneira de acalmar a pulsão pelo registro das horas. "Guardo as memórias para curar as feridas", narra o cineasta em determinado trecho do documentário.

"Quis mostrar uma mensagem humana. As pessoas, quando veem meus filhos crescendo, se sentem mais próximas da história. Então, isso deixa de ser um filme."


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