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Crítica - Drama

Recursos cênicos escassos valorizam texto da peça 'Berro'

MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO

A peça teatral "Berro", dirigida por Eduardo Tolentino no projeto de ocupação artística do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, faz parte do trabalho maduro do dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983) e tem forte caráter autobiográfico.

Dois irmãos, Feliz e Clara, interpretados por Rubens Caribé e Mariana Muniz, fazem parte de uma companhia que os abandona subitamente antes de uma apresentação.

Sozinhos, sem objetos de cena e figurino, a única saída que encontram é realizar uma montagem da trupe que exige apenas dois atores --o título original em inglês para uma das versões do texto é "The Two-Character Play" (a peça de dois personagens).

A partir deste argumento, as histórias dos atores e dos personagens da peça que representam misturam-se sem fronteiras definidas.

A locação do Arena é apropriada para reproduzir o clima de claustrofobia presente no texto, que faz referências explícitas à relação entre Williams e sua irmã Rose.

O palco vazio, ocupado apenas por dois bancos pretos, o desenho de luz suave, que valoriza a penumbra, e a ausência de maquiagem apontam a intenção de Tolentino em privilegiar o trabalho com o elenco.

Nos moldes do teatro pobre de Jerzy Grotowski (1933-1999), o espetáculo valoriza a técnica pessoal dos atores. De cara limpa, suas emoções saltam aos olhos do público.

Caribé atinge a intensidade dramática que seu papel exige, mantendo-a sempre no limite entre a ansiedade e o desespero. A ênfase de sua atuação recai sobre as expressões faciais.

Muniz escolhe um registro mais sensual, dando foco na atividade com o corpo. O prender e soltar de sua cabeleira tem plasticidade, mas às vezes ela exagera na pantomima do palito de cabelo como extensão de seu braço.

Os códigos de encenação são bem definidos. Enquanto Caribé faz movimentos mais retos, perpendiculares, Muniz desloca-se por vias curvilíneas, reproduzindo a suavidade de Clara.

A parceria funciona e traduz com fidelidade a tensão sexual incestuosa que existe entre os irmãos.

O duo tem domínio do palco, preenchendo bem os espaços vazios. Em várias cenas, porém, suas posições tomam ângulos inadequados, dada a natureza concêntrica dos assentos na plateia.

Essa deficiência no posicionamento perante os espectadores poderia ser evitada com rotação de perspectiva maior nas transições de cena.

IMAGEM E SOM

O figurino também denota a estética grotowskiana. As vestimentas são puídas, parecem recém-saídas do porão de um brechó. A recusa pela tecnologia está da mesma forma exposta nos parcos recursos sonoros utilizados.

A adaptação de Tolentino é eficiente ao extrair do enredo sintético uma ampla gama de emoções expressas unicamente pela atuação do par.


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