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Biografia propõe visão menos maniqueísta sobre Getúlio

Segundo volume de trilogia de Lira Neto relata episódios de 1930 a 1945

Fase da ditadura do Estado Novo ficou ainda marcada por defesa de direitos sociais e industrialização do país

MARCO RODRIGO ALMEIDA DE SÃO PAULO

O segundo volume da biografia de Getúlio Vargas é um prato cheio para quem venera ou odeia o principal mito da política brasileira.

"Getúlio (1930-1945)", parte dois da trilogia do jornalista Lira Neto que chega às livrarias agora, enfoca um dos períodos mais turbulentos do político que sempre esteve associado à controvérsia.

Após a vitória na Revolução de 30, Getúlio permaneceu 15 anos no Palácio do Catete, no comando do país. Primeiro como chefe do governo provisório (1930-1934), depois presidente constitucional (1934-1937), eleito pelo Congresso Nacional, e, por fim, ditador do Estado Novo (1937-1945).

Nesse período intenso, retratado com detalhes saborosos, duas Constituições foram rasgadas, levante comunista tentou tomar o poder, partidos de esquerda e de direita ganharam corpo e depois foram extintos, o país embarcou na Segunda Guerra.

As transformações foram significativas. O Brasil deixou se de ser um país agrário e iniciou sua industrialização. Leis trabalhistas foram criadas, o voto feminino, instituído.

Mas foi também, principalmente após 1937, um período tenebroso, com torturas, censura feroz à imprensa, perseguição a oponentes políticos e o Congresso fechado grande parte do tempo.

"O período ditatorial tem sido útil, permitindo a realização de certas medidas salvadoras, de difícil ou tardia execução dentro da órbita legal", declarou Getúlio certa vez.

Não é de estranhar que Lira Neto, desde que se embrenhou no projeto, em 2009, ouça vez por outra: "Getúlio era do bem ou do mal?".

O biógrafo sabe do poder de polarização de seu objeto de estudo, mas diz querer propor um debate mais equilibrado e sutil. "Quando falamos de Getúlio, não dá para ser tão preto no branco, tão binário, maniqueísta. A compreensão não pode ficar nesse Fla-Flu ideológico. Ele deve ser entendido de forma mais fina, aí sim poderemos achar algumas respostas mais consistentes", defende Lira Neto.

O jornalista, que vai concluir sua trilogia no ano que vem, espera jogar mais luz na "esfinge Getúlio". "O Estado Novo é Getúlio em sua plenitude. As grandes marcas dele vieram desse período, a formação do mito do pai dos pobres'. Fez uma Constituição de um homem só, alheio ao debate, à troca de ideias."

No primeiro volume, lançado no ano passado, retratou a vida do político do nascimento até a Revolução de 30. No último, já em fase de escrita, abordará a volta ao poder (1950) e seu suicídio, em 1954.

Mas este segundo volume foi o mais trabalhoso,segundo o autor, curiosamente por oferecer uma enormidade de fontes de pesquisa.

Os 15 anos retratados no livro são alguns dos mais estudados da história brasileira. Como o próprio biógrafo comenta no fim do trabalho, cada um dos muitos episódios marcantes já foi tema de exaustiva bibliografia.

Lira Neto conta que sua dificuldade foi sintetizar todo o material, tentando conectar a moldura histórica à vida privada de Getúlio.

"Nós temos uma imagem, construída a posteriori, de um homem amável, sorridente. Os escritos privados apontam numa direção contrária, um homem muito atormentado, que viveu muitas situações de dúvidas, vacilações."

Como exemplo, cita a recorrência da ideia de suicídio em bilhetes e cartas de Getúlio. Em abril 1945, prevendo o golpe militar que o tiraria do poder meses depois, escreveu, antecipando sua carta-testamento de 1954: "Estou resolvido a este sacrífico para que ele fique como um protesto".


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