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Jornalista narra tragédia no Paquistão

Gabi Martínez conta em 'Só para Gigantes' história do cientista que saiu à procura do 'yeti' e acabou assassinado

'Alguns conflitos são de ordem mais profunda e talvez só possam ser resolvidos de forma violenta', diz autor

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

O jornalista e escritor catalão Gabi Martínez, 42, vem sendo comparado a ilustres antecessores, como o polonês Ryszard Kapu?ci?ski (1932-2007), desbravador da África, e Bruce Chatwin (1940-1989), que, entre outras coisas, revelou as profundezas da Patagônia argentina e chilena ao mundo.

Entre seus livros anteriores, está "Sudd", novela baseada em uma viagem que fez ao maior pântano do mundo, no rio Nilo, de onde relatou casos de barcos que entraram nessa zona e não saíram nunca mais.

Martínez resgatou o diário de um italiano sobrevivente da tragédia, através do qual refez a trajetória dos náufragos do desastre.

Agora, Martínez lança no Brasil o livro "Só para Gigantes", em que narra a viagem ao Paquistão feita para investigar a morte do zoólogo franco-espanhol Jordi Magraner.

O cientista havia se internado nas montanhas daquele país para tentar encontrar o chamado "yeti", espécie de elo perdido das neves. A aventura tem um final desastroso, com seu misterioso assassinato.

"Havia várias versões, desde um crime passional até vingança ou simples assalto. O mais provável é que ele tenha sido morto por ter se tornado líder de uma tribo pagã", diz Martínez, em entrevista à Folha, por telefone, de Barcelona.

De fato, Magraner, após ter percorrido por um período de mais de dez anos o norte do Paquistão e o noroeste do Afeganistão, transformou-se em um líder da tribo dos kalash, de origem indo-europeia, que vivia em conflito com os muçulmanos daquela região.

FORASTEIRO

No livro, Martínez conta como Magraner ajudou os kalash a preservar sua cultura oral formando professores. "O trabalho humanitário de Magraner coincidiu com a ascensão do Taleban, o que tornava a região um ambiente muito tenso e violento", diz Martínez.

Um dos elementos da história que geraram fascínio em Martínez foi o fato de o zoólogo ser um estrangeiro por definição. Nascido na Espanha, passara boa parte da vida na França e mais de dez anos na região do Paquistão e do Afeganistão.

"Apesar de a família, baseada na França, ter vindo a público pedir justiça por seu assassinato, nenhuma nação assumiu Magraner como seu cidadão. O status de estrangeiro constante o deixou à margem, também, da Justiça", afirma o escritor.

CHOQUE CULTURAL

Durante sua estada na região, em 2009, Martínez entrevistou várias pessoas que conheceram Magraner e julga ter tido contato direto com um de seus assassinos.

Ele conta que sua visão europeia e seus valores foram colocados em xeque. "Um europeu chega a uma zona como essa pronto a entender tudo, disposto a contemporizar, mas no final acaba entendendo que alguns conflitos são de uma ordem mais profunda e, talvez, só possam ser resolvidos de forma violenta."

Autor de quatro livros de investigação e de um blog, Martínez diz que acredita que o jornalismo, agora, enfrenta um desafio para sobreviver em distintos suportes.

"É verdade que a mídia tradicional está em crise, mas nós não podemos ficar reclamando. Cabe aos jornalistas buscar quem patrocine suas histórias. Pode ser uma editora, como é o caso dos meus livros, podem ser outras fontes. A natureza do trabalho não mudou, o que nos move são as ideias e a curiosidade", resume.


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