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As escolhas de Sofia

Chega ao Brasil 'A Gangue de Hollywood', quinto filme de Sofia Coppola, que aumenta sua vasta galeria de meninas entediadas

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Com estreia prevista para a próxima sexta-feira no Brasil, "Bling Ring: A Gangue de Hollywood" é baseado na história real de quatro garotas e um rapaz, adolescentes da Califórnia, que resolvem invadir casas de celebridades para farrear e furtar.

É o quinto filme da diretora americana Sofia Coppola, 42, e pela quinta vez ela coloca jovens entediados no centro de suas tramas.

Sua estreia, "As Virgens Suicidas" (1999), já entrega no título as irmãs que decidem se matar. Em "Encontros e Desencontros" (2003), Scarlett Johansson só volta a se animar quando conhece um homem maduro no outro lado do mundo --no Japão.

Depois Sofia lançou "Maria Antonieta" (2006), sua versão muito particular da rainha francesa de 19 anos que era tédio puro. Em seguida, escalou Elle Fanning como filha entediada de um ator de cinema mais entediado ainda em "Um Lugar Qualquer" (2010).

Com inegável DNA de cineasta herdado do pai Francis, Sofia gosta de filmar com planos longos, silêncios arrastados e closes insistentes. Quase uma diretora "europeia" em Hollywood.

Garota, passou uma fase morando no subúrbio, como suas virgens suicidas, e depois frequentou os endereços mais badalados de Beverly Hills, aqueles que a gangue do novo filme quer conhecer.

Nem é preciso saber que "A Gangue de Hollywood" é baseado em uma história real para perceber como seus personagens representam adolescentes bem críveis.

Sem ter visto ainda o filme, mas com informações sobre o roteiro, o psicanalista Jorge Forbes aponta que Sofia enfoca um dos aspectos do jovem de hoje: o fastio adolescente.

"Numa nova era que não há um norte tão claro como a anterior, quando você era contra ou a favor do sistema, o adolescente reage à múltipla oferta de escolhas através do fastio, do desprezo, como se nada importasse", explica Forbes. "Porque não tem coragem de apostar no que realmente importa para ele."

O nome original do filme é "Bling Ring". "Bling" é a onomatopeia para o barulho de joias sendo chacoalhadas, e "ring" significa grupo.

Essa "gangue das joias" carrega motivações bem peculiares. Segundo Forbes, o furto, que é o crime dos meninos do filme, pode ter como motivação uma revolta social ou uma necessidade básica. Não é o caso dos bandidos teen de Sofia Coppola.

OBJETOS DE DESEJO

Paris Hilton tem algo a mais que os garotos desejam. Não basta mais a foto ao lado do ídolo ou o autógrafo. Querem roubar algo. Não adianta comprar, é preciso sentir que está tirando algo do outro.

"Comprar uma blusa que foi da Rita Lee em um brechó, como fãs fizeram um dia desses, não vale. Aquilo não é mais um pedaço da Rita. Os garotos como os do filme querem lesar a pessoa roubada, e sentem que conseguiram pela reação da celebridade, pela polícia em seu encalço", diz Forbes.

Parece, então, que a antena de Sofia para captar padrões de comportamento jovem continua certeira como em sua estreia na direção.

Lançado há 14 anos, "As Virgens Suicidas" ainda pode ser visto como um exemplo de maneira interessante para abordar um tema tabu.

"A Organização Mundial de Saúde recomenda que o suicídio não seja glamourizado, é importante mostrar que há sofrimento no processo, e o filme de Sofia faz isso", afirma Robert Gellert Paris, conselheiro do CVV (Centro de Valorização da Vida).

Segundo ele, os jovens se comunicam muito pelas redes sociais, mas nelas são julgados, não recebem acolhimento. "Conversando, os sentimentos de autodestruição podem ser evitados, a bomba pode ser desarmada."

De acordo com o radar de Sofia Coppola, é difícil quebrar a barreira da incomunicabilidade e do tédio.


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