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Ator transexual narra em peça sua busca por identidade

Leo Moreira Sá, ex-baterista das Mercenárias, sobe ao palco em 'Lou&Leo', dirigido por Nelson Baskerville

Em cartaz no Espaço dos Satyros, espetáculo questiona padrões sociais ao descrever experiência pessoal

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Leo Moreira Sá entoa a oração de sua "santa padroeira", Simone de Beauvoir. "Que nada nos defina. (...) Que a liberdade seja nossa própria substância", prega ele em "Lou&Leo", documentário cênico em que relata a sua vida, em cartaz no Espaço dos Satyros.

"Leo é um homem em um corpo feminino que desceu ao Hades e voltou para passar a experiência", diz o diretor Nelson Baskerville, que vê "Lou&Leo" como um "Luís Antônio-Gabriela" (premiado espetáculo sobre o irmão transexual do encenador) invertido.

Leo, 55 anos, nasceu Lou--Lourdes Helena. Define-se como um homem em processo. Viveu surtos (e abusos sexuais) na adolescência, quando as formas femininas de seu corpo começaram a se anunciar.

Adulto, mobilizou-se pelo anseio de sentir-se um ser íntegro. "Quem era eu? O que era eu? Quem sou eu? O que sou eu?", se perguntava.

Sempre à procura de respostas, cursou ciências sociais na USP. Lá, integrou o grupo punk feminino As Mercenárias, ocupando o banquinho de bateria de Edgard Scandurra.

O discurso libertário da banda e de pensadores como Margareth Mead, Michel Foucault e Simone de Beauvoir ajudaram Leo a trocar o desejo de enquadramento pelo questionamento sistemático das imposições da sociedade.

"A transexualidade me possibilitou um olhar crítico sobre a cultura heteronormativa. Estar fora dos padrões me fez ver que o problema não está em mim, mas na formatação dos conceitos de homem e mulher", diz ele, que ficou preso por tráfico de drogas de 2004 a 2009 e encontrou abrigo no teatro após cumprir pena.

Ingressou na Cia. Os Satyros e conquistou o prêmio Shell de iluminação de 2012,em parceira com Rodolfo García Vázquez. Com o dinheiro recebido, fez a mastectomia total e passou a ter imagem mais condizente com sua essência.

Leo vive uma catarse em "Lou&Leo". Se não conseguiu expulsar seus fantasmas, já dialoga com eles, sem medo: "Hoje vejo que meus demônios continuarão na minha vida, sentados comigo em uma eterna mesa de negociação".


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