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Stoklos transforma 'Carta ao Pai' em crítica aos políticos

Artista leva texto clássico de Kafka aos palcos para mostrar relação entre governantes e povo brasileiro

Obra do autor tcheco também inspira a peça 'Expresso K', da Cia Pau D'arco, sobre os últimos dias de vida do escritor

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O acerto de contas de Franz Kafka com o pai tirânico ganha leitura política. Denise Stoklos transforma "Carta ao Pai" numa metáfora sobre a relação entre o povo brasileiro e seus governantes.

Na peça que estreia amanhã, a criadora do método Teatro Essencial projeta na figura do opressor os dirigentes da ordem estabelecida no país. Já o filho oprimido torna-se o brasileiro que anseia por melhores condições de vida.

"Carta ao Pai" reúne fragmentos da obra homônima do autor tcheco, que nunca chegou ao seu destinatário e se transformou num clássico da literatura mundial. "Expresso K", peça da Cia Pau D'arco de Teatro que entra em cartaz este final de semana, também se baseia na obra epistolar de Kafka.

Enquanto Stoklos usa a obra para discutir a realidade do país, Bia Szvat, diretora de "Expresso K", busca reconstituir, de forma não linear, os últimos cinco dias de vida do autor tcheco. "Trazemos ao público uma faceta menos conhecida de Kafka, seu lado mais doce e amoroso, além de sua dor e de seus delírios, causados pela alta febre", conta.

Stoklos enfatiza como outra interpretação possível para "Carta ao Pai" a relação entre instituições governamentais e classe teatral, segundo ela, fadada a não crescer pelas condições que lhe são impostas.

"Represento a classe teatral em cena e faço uma denúncia ao apontar as opressões vindas de órgãos como o MinC, a Secretaria de Cultura e a Funarte, que deveriam dar todas as condições aos criadores de teatro, mas não dão. Não sei como os grupos resistem, meu Deus", desabafa.

GANHA-TEMPO

Stoklos tem consciência de ser uma artista privilegiada. Durante seus 45 anos de carreira, completados em novembro, pôde dedicar-se exclusivamente à construção de seu teatro.

Quer mostrar que um artista consegue viver apenas de teatro. Deseja que o homem faça valer sua vocação e não corrompa sua essência trabalhando para o sistema, apelidado por ela de linha de montagem. Além de exibir-se como prova viva desta possibilidade, espera que o discurso de "Carta ao Pai" contribua para uma transformação social.

Stoklos define sua arte como um "ganha-tempo" em vez de passatempo. "Teatro gera reflexão, produto que não se vende, que não interessa para nenhuma corporação", afirma.

Em "Carta ao Pai" segue sua pesquisa pela essencialidade da cena. O trabalho, como sempre, é fundamentalmente do ator, que não se apoia em enredo, personagens ou elementos de cena para apresentá-lo. "Busco um teatro cada vez mais limpo. Não quero ficar escondida atrás da técnica", diz.


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