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Filme registra fotógrafos das ruas de NY

'Everybody Street' revê trajetória de artistas que documentaram transformação da cidade nos anos 1960 e 1970

Garry Winogrand, um dos maiores nomes do movimento, é tema de palestra amanhã durante a SP-Arte/Foto

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Quando Nova York desbancou a Europa arrasada pela guerra para virar o novo centro do mundo nos anos 1960, fotógrafos estavam nas ruas para registrar toda a exuberância, os excessos e a violência dessa transformação.

"Everybody Street", documentário que estreia em outubro nos Estados Unidos e que já passou pelos maiores festivais do gênero, narra a história das objetivas que varreram Manhattan e os fotógrafos por trás delas, gente que encontrou grandes dramas no metrô, retratou a rotina de policiais e bombeiros e escancarou os vícios e a truculência das gangues.

"Era a Nova York dos blecautes, dos trens pichados, uma cidade ainda falida", lembra Cheryl Dunn, diretora do filme. "Tinha uma energia assustadora. Essas séries fotográficas foram todas construídas nas ruas mesmo, porque toda a intimidade dessa época passava por elas."

Garry Winogrand, fotógrafo morto em 1984 que se consagrou com flagras bizarros da cidade, como um casal andando com chimpanzés no colo ou uma mulher intrigada com rinocerontes no zoológico, foi um dos maiores nomes dessa trama de obsessão fotográfica pelas ruas.

Embora apareça pouco no documentário, Winogrand é tema de uma conversa amanhã na SP-Arte/Foto e teve imagens publicadas no último número da revista "Zum".

"Ele foi um trabalhador voraz, talvez a voz mais potente dessa época de ansiedade e promessas", diz Leo Rubinfien, fotógrafo que fala sobre Winogrand na feira de arte e organizou a maior mostra do artista, aberta no começo do ano em San Francisco e que vai circular por cidades dos Estados Unidos e da Europa.

Na opinião de Rubinfien, Winogrand é o "fotógrafo essencial dos Estados Unidos", em especial de Nova York, a arena esquadrinhada por Dunn em seu documentário.

Enquanto ele focou a bonança --sorvetes, vitrines e vedetes--, outros fizeram um retrato mais cru da cidade.

Boogie, fotógrafo sérvio que se radicou em Nova York, fez talvez as imagens mais contundentes de "Everybody Street", retratando gangues e seus arsenais de pistolas e fuzis em momentos descontraídos, uma raiz longínqua do que seriam hoje os clipes de rap ou de funk ostentação.

"Essas imagens falam muito daquele momento", diz Dunn. "Construir uma série dessas é fruto de devoção. Ele passou anos fazendo isso."

VIDAS EM ERUPÇÃO

Jill Freedman também ficou anos no encalço de policiais e bombeiros na tentativa de expor o mundo do crime numa cidade que então brigava para erradicar a violência. Seus retratos mostram ocorrências sangrentas e crianças brincando em bairros destruídos e refeitos pela especulação imobiliária.

Na mesma pegada, Clayton Patterson, um barbudo do Lower East Side, retratou os personagens do bairro, tão hippies quanto ele, sempre diante da porta de seu prédio. entre eles o --também barbudo-- poeta Allen Ginsberg.

"Sem dúvida, havia a sensação de que tudo que era importante naquela época estava acontecendo nas ruas", diz Rubinfien. "Foi um momento em que a vida estava em erupção. As pessoas queriam mostrar o que sentiam nas ruas, como se todos fizessem uma grande performance."

Ou talvez só parecesse performance. "Alguns fotógrafos fingem que estão dirigindo um filme quando saem na rua examinando as pessoas", conta Joel Meyerowitz, fotógrafo que está no documentário. "Mas tudo é um caos."

E nesse caos, ele diz que tenta o tempo todo registrar "um instante de clareza". "É aquele gesto espontâneo que faz a gente pensar que entende uma pessoa ou que somos capazes de ler aquela cultura e o papel daquele personagem dentro desse mundo."


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