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Crítica - Filosofia

Reverência contamina análise de Lafer sobre Norberto Bobbio

FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULO

"Militante da divulgação do pensamento de Norberto Bobbio", como se define, Celso Lafer recebeu dele, em 2003, a seguinte resposta sobre um texto de sua autoria acerca de uma das obras do italiano.

"É difícil dizer algo a respeito porque sou um juiz muito severo das coisas que escrevo para me deixar convencer por quem me elogia."

O excesso de deferência é o fio condutor de "Norberto Bobbio - Trajetória e Obra", reunião de ensaios do ex-chanceler brasileiro sobre o pensador italiano, escritos entre 1980 e 2011.

O livro se divide em cinco partes, sendo as mais importantes as relativas a relações internacionais, direitos humanos e teoria política, temas caros a Bobbio (1909-2004). Os ensaios são, em boa parte, prefácios de obras do pensador publicadas no Brasil.

Profundo conhecedor da obra de Bobbio, de quem se considerava amigo, Lafer transita com facilidade por sua linha de pensamento.

O livro é especialmente interessante quando discorre sobre a visão do italiano sobre guerra, paz, democracia e direitos humanos, devolvendo conceito e rigor a termos bastante banalizados.

Lafer define Bobbio como um pensador "de mediação" avesso aos "extremos" e aos "fanáticos" que, ao longo de quase 5.000 textos, misturou o ofício de professor e de intelectual público.

Os ensaios variam de uma abordagem mais acadêmica ao posicionamento do filósofo em temas "do dia", entre os quais sua controvertida posição em favor da primeira Guerra do Golfo (1990).

A edição, porém, traz repetições desnecessárias. A metáfora bobbiana de que os homens estão num labirinto cujas saídas não são óbvias e que se aprende com os "becos" é explicada três vezes de forma quase idêntica. A posição sobre a Guerra do Golfo aparece em dois ensaios, com pouquíssimas mudanças.

Outra ressalva é o pouco espaço dedicado à pertinência do pensamento de Bobbio para temas mais contemporâneos. Há apenas pinceladas, por exemplo, sobre o perigo para a democracia que ele apontou na atuação dos serviços secretos.

Mas o que mais incomoda é o tom laudatório, que o formato de prefácio, geralmente favorável à obra que apresenta, explica apenas parcialmente. Lafer opta reiteradamente por uma posição excessivamente subordinada, em que as várias autorreferências servem para reforçar o alinhamento intelectual.

Diminuído diante do retratado, o texto é, em muitos trechos, arrogante com o leitor, abusando de citações em italiano e em latim sem tradução, o que uma edição mais cuidadosa poderia ter evitado.

Mesmo com esses problemas, Celso Lafer não deixa de fazer uma boa introdução ao pensamento de Norberto Bobbio. A lamentar que seja mais uma hagiografia de um discípulo do que o diálogo crítico de um interlocutor.


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