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Crítica música erudita

No retorno de Alsop, percussão é o destaque

Escocês Colin Currie arrebata plateia, mas 'Primeira Sinfonia' de Mahler ainda pede ajustes antes de turnê da Osesp

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Marin Alsop está de volta. A regente titular da Osesp reassumiu a orquestra na última quinta-feira e, se não fosse por uma discreta proteção no pulso direito, não haveria nenhum resquício da fratura que a afastou do Festival de Campos do Jordão no último mês de julho.

O atual período em São Paulo foi planejado para preparar a turnê europeia que o grupo fará em outubro próximo. Serão 15 concertos na França, Alemanha, Suíça, Áustria, Inglaterra e Irlanda, em um período de 20 dias.

O programa da semana passada na Sala São Paulo incluiu "Sinfonia nº 1" (1888) de Gustav Mahler (1860-1911) --que será apresentada oito vezes durante a turnê, incluindo os concertos em Paris, Genebra, Salzburgo e Dublin (mas não os agendados em Londres e Berlim).

Pelo que foi possível escutar no concerto de quinta-feira, ainda há muito trabalho pela frente. Faltou energia ao primeiro movimento, com falhas individuais nos sopros e problemas de afinação logo no início, nas quartas lá-mi emitidas por flautim, oboé e clarinetes.

Aos poucos, entretanto, o desenho formal delineado por Alsop começou a aparecer. O scherzo medido, "não muito rápido" (como escreve o compositor), e o célebre terceiro movimento --a canção "Frère Jacques" em modo menor-- foram os melhores momentos.

E a impetuosidade do final jamais escondeu a elaboração das vozes internas --aquelas melodias que não se destacam nos registros extremos (graves ou agudos), mas que, saídas de dentro da textura, podem se tornar a própria medula de uma composição.

O belo solo de contrabaixo de Ana Valéria Poles foi o símbolo da atuação expressiva e precisa das cordas, cujo ponto culminante seria a parte central do finale.

Mas, antes de Mahler, o público teve o privilégio de escutar "Alberich Salvo", obra para percussão e orquestra do norte-americano Christopher Rouse, 64.

Alberich é o anão que, na tetralogia "O Anel do Nibelungo", de Wagner (1813-83), renuncia ao amor e forja o anel do poder. Para Rouse, é como se o percussionista solista encarnasse o próprio ser mítico, para além da saga germânica.

Dos sons raspados que abrem e fecham a obra, das passagens pelos tambores e wood blocks, do tocante trecho lento na marimba (evocação da forja dos nibelungos?) até o momento heavy metal em uma bateria de rock, tudo constitui uma matéria original e pujante, que dialoga na medida com o próprio Wagner.

Concentrado em sua movimentação à frente da orquestra, o percussionista escocês Colin Currie foi o astro da noite. E Alsop regeu de modo alucinante, expandindo e amplificando na Osesp os gestos do solista.


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