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Mostra debate arte como crime e vice-versa

'Suspicious Minds' relaciona criminologia a questões de estética a partir dos trabalhos de 25 artistas plásticos

Primeira exposição no país de curadora brasileira radicada em Paris reúne de Cildo Meireles a Zé do Caixão

FERNANDA MENA DE SÃO PAULO

A galeria de arte como cena do crime. Não uma, mas várias delas: criadas, interpretadas e encenadas por 25 artistas brasileiros, latinos e europeus reunidos na mostra "Suspicious Minds" (mentes suspeitas, em tradução livre), que abre hoje na galeria Vermelho, em São Paulo.

Foi o britânico Thomas De Quincey (1785-1859), no texto "Do Assassinato como Uma das Belas Artes" (1827) --que ironicamente propõe uma leitura estética, e não ética, de homicídios--, quem teorizou sobre a ponte entre arte e crime tão replicada na literatura, na fotografia e no cinema.

Nesta relação, o que a ética e a moral condenam, a arte pode transformar em prazer.

"Walter Benjamin [1892-1940] diz que a criminologia surgiu da fotografia e da possibilidade de congelar cenas de crimes, o que contribuiu para popularizar histórias de detetives", diz a curadora brasileira Cristina Ricupero.

É sobre essas duas premissas que ela -- que já trabalhou no Centro Georges Pompidou, em Paris, e para o Nordic Institute for Contemporary Arts, na Finlândia-- reuniu obras que debatem arte como crime e crime como arte em três aspectos.

Primeiro, em uma dimensão histórica e política, estão obras como a instalação "Strictu", de Cildo Meireles, que evoca uma sala de interrogatório cercada por correntes, bolas de aço e algemas.

AUTORIA E FRAUDE

No mesmo espírito, Dora Longo Bahia coloca lado a lado reproduções de imagens de "A Morte de Marat" (de Jacques-Louis David), de Che Guevara morto e do cadáver do líder estudantil Edson Luís, assassinado em 1968, durante o regime militar. As três imagens são então vandalizadas com tinta vermelha --o que remete ao segundo aspecto discutido pela exposição: os chamados crimes de arte.

Aí estão ainda obras como as do brasileiro Gustavo von Ha, que se apropria de trabalhos da modernista Tarsila do Amaral (1886-1973) ao reproduzi-los espelhados, com a assinatura de trás para a frente, discutindo questões de autoria, autenticidade e fraude.

A terceira dimensão de "Suspicious Minds" é a dos crimes estetizados. Aí entram trabalhos com forte viés cinematográfico, como o da turca Asli Cavusoglu, que três episódios fictícios da série de TV "CSI", protagonizada por legistas e cientistas forenses.

Os vídeos foram feitos a partir de performances, patrocinadas pela Frieze, a feira de arte de Londres, em que galerias e quadros são investigados por peritos criminais.

A mostra reúne ainda obras que apenas sugerem mistérios ou mesmo crimes.

ZÉ DO CAIXÃO

José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é também homenageado na mostra com a exibição de objetos e imagens originais de clássicos do terror B como "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" (1964), cujo roteiro original será exposto ao lado das roupas do personagem.

"Ele é o maior exemplo brasileiro de fetichismo do assassinato na estética cinematográfica. É o papa do terror no país", avalia a curadora.

"É uma pena, no entanto, que ele seja tão pouco valorizado aqui no Brasil."


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