Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Violência familiar predomina em Veneza
Festival termina hoje sem grande favorito ao prêmio principal; 6 dos 20 longas abordam abusos dentro de casa
Prostituição infantil, segredos incômodos e agressões estão em enredos de obras de diferentes países
O Festival de Cinema de Veneza termina hoje sem favorito para o Leão de Ouro, mas um tema ficou bem claro nos filmes exibidos: a preocupação com violência doméstica.
Dos 20 longas na disputa pelo prêmio principal, seis mostram abusos confinados entre quatro paredes. O destaque é o grego "Miss Violence", sério candidato ao prêmio ao lado do inglês "Philomena", de Stephen Frears.
O drama baseado em história real mostra um patriarca que serve de cafetão para as filhas assim que elas completam 11 anos --mas não deixa o ambiente familiar ser atingido pela sujeira. "A violência está aumentando, e, quando há crises financeiras, a tendência é que as duas coisas se juntem", crê o diretor Alexandros Avranas.
O alemão "Die Frau des Polizisten" (A mulher do policial) lida com o tema de maneira mais comum. Nele, uma mulher é espancada diariamente pelo marido policial, mas não pede ajuda. "Entrevistei dezenas de mulheres, e elas ficam tão envergonhadas que preferem não sair de casa", conta Philip Gröning.
Em "Joe", de David Gordon Green, Nicolas Cage ajuda um garoto a superar ataques do pai, um bêbado violento, enquanto "Tom at the Farm", do canadense Xavier Dolan, conta a história de uma família cujo filho morre e ninguém deseja lidar com o assunto de sua homossexualidade --nem quando o namorado do jovem chega à fazenda.
O asiático "Jiaoyou" (vira-latas), do diretor malaio Tsai Ming-liang, e o franco-argelino "Es-Stouh" (Os terraços), de Merzak Allouache, procuram entender a influência da violência social no núcleo doméstico.
O primeiro retrata uma família formada por um pai e dois filhos mendigando, enquanto o segundo lista cinco personagens em Argel com segredos como homossexualidade, fanatismo e mortes. "A hipocrisia em meu país, onde homossexuais precisam ficar escondidos, está provocando a evolução da violência surrealista", afirma Allouache.