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Crítica - Drama

'Dançando em Lúnassa' valoriza a complexidade dos papéis

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Dançando em Lúnassa" é de 1991, mas a premiada peça situada na Irlanda de 1936 já tem status de clássico. Inspirada em "As Três Irmãs", de Tchékhov, conta o desmoronamento de uma família na época da industrialização.

Cinco irmãs solteiras lutam contra a pobreza. Aos problemas de subsistência somam-se os preconceitos que a família sofre quando o irmão Jack volta perturbado depois de 25 anos como missionário na África, expulso ao converter-se às crenças dos nativos.

Não é à toa essa fascinação. A vida tradicional irlandesa que era também ligada à natureza está morrendo, e com ela a coesão desta família.

A festa de um deus pagão irlandês, pano de fundo da ação, é apenas lembrança da raiz cultural. Assistimos à extinção da vida comunitária por meio de forças exteriores. A qualidade do texto está neste olhar sobre a relação entre tradição e modernidade.

O mérito do diretor Domingos Nunes é ter levado em atenção tanto a celebração da vida familiar como a complexidade de cada personagem.

Para isso, conta com ótimos atores. Denise Weinberg faz Kate: católica convicta, pode ser mandona e sensível quando perde o emprego que sustenta a família. Sandra Corveloni encanta como a alegre Maggie, mordaz apenas com o sobrinho Michael.

Filho ilegítimo de Chris, papel da graciosa Fernanda Viacava, Michael é o contador da história e contracena de forma indireta com as tias e a mãe quando criança.

Clara Carvalho comove como Agnes, solteirona afetuosa com a caçula Rose, menina simples que ganha dignidade na atuação de Isadora Ferrite. Gustavo Trestini como Jack e Renato Caldas como Gerry, pai de Michael, têm papéis menores. Jack é crível como um pastor que perdeu o rumo, enquanto Gerry poderia ser um malandro ou mais autoconsciente ou aborrecível.

Num espaço simples, mas eficiente, irmãs cantam e dançam ao som do rádio ou do acordeão de Michael. A felicidade apesar da miséria e a cumplicidade delas tornam mais leve a real tragédia que vivem. Depois de esse jeito dócil ter sido contestado nas ruas brasileiras, fica evidente que era preciso trabalhar mais a desesperança.


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