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Crítica serial

LUCIANA COELHO coelho.l@uol.com.br

Cria dinamarquesa, 'The Bridge' incomoda

Série parte de premissa dramática e política genial, mas perde pontos com clichês policiais surrados

na avalanche de séries policiais que orbitam em torno da caçada a um assassino serial, "The Bridge" se destaca de seus pares atualmente no ar pela crescente sensação de desconforto que traz ao espectador. Para o gênero, isso não é necessariamente algo ruim.

Remakes americanos, como é o caso desta produção do FX, raramente são boa ideia. Desta vez, porém, transpor a história da fria fronteira entre Suécia e Dinamarca (onde se passa a versão original, numa mini-onda nórdica completada por "The Killing") para a fervilhante divisa entre México e EUA permitiu aos roteiristas enfiar os dedos em feridas políticas dos dois lados.

A violência do narcotráfico, a corrupção policial e a esquecida matança de mulheres em Ciudad Juárez; a relação negligente com os vizinhos e a decorrente turbulência com a imigração no Texas são abordadas com sobriedade, sem estereótipos. Arestas culturais, também.

Mas a série escorrega justamente naquilo que deveria fazer com mais propriedade, a julgar pela produção original que a inspirou: o desenrolar da trama policial.

Tanto os personagens quanto os conflitos entre eles parecem saídos de um manual de roteiro. É o caso do choque entre os protagonistas: o excelente Demián Bichir (indicado ao Oscar por "A Better Life"), o policial mexicano malandrão Marco Ruiz, e a hesitante Diane Kruger ("Bastardos Inglórios"), como a regrada detetive americana Sonya Cross. O mesmo se aplica à história da viúva que acha um túnel de imigrantes em seu rancho.

Kruger, aliás, dividiu o público com sua representação de uma policial com síndrome de Asperger (um transtorno no espectro do autismo abolido na versão mais recente da bula da psiquiatria, o DSM-5).

Como sua condição não é citada na série, apenas em entrevistas, é difícil entender de cara os modos mecânicos e a falta de filtro social com que ela dotou a personagem. O fato de sua Sonya ter as qualidades permanentemente realçadas, porém, foi bem recebido.

"The Bridge" acompanha os dois detetives na procura pelo assassino de uma juíza americana, cuja parte superior do corpo é deixada sobre a fronteira, justaposta à parte inferior de uma anônima mexicana. A cada episódio, o matador se mostra mais ambicioso e elusivo.

Se o vilão prova-se chato aos poucos, ainda há personagens intrigantes --o advogado davidlynchiano de Lyle Lovett, o violento caipira solitário de Thomas M. Wright.

Mais pontos altos vão para a dupla de jornalistas outsiders vivida por Matthew Lillard (quem diria que o Salsicha de Scooby-Doo poderia surpreender?) e Emily Rios (a Andrea de "Breaking Bad"). Ele, um repórter cuja dependência química limitou a carreira, que serve como principal contato do assassino; ela, sua colega mexicana lésbica de família matriarcal e casadeira.

Mas o humor negro da dupla, uma herança bem dinamarquesa, pouco ameniza o desconforto da série, que funciona meio como a personagem de Kruger: é inteligente, visualmente instigante e altamente eficiente. O apego excessivo à cartilha, contudo, pode colocar tudo a perder.


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