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Teatro

Marieta Severo volta com tragédia familiar

'Incêndios', montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho, é drama com contornos políticos sobre choque cultural

Texto criado por libanês refugiado rendeu filme elogiado em 2010; estreia é amanhã no Teatro Poeira

MARCO AURÉLIO CANÔNICO DO RIO

Uma mãe que passou os cinco últimos anos de sua vida calada, após um trauma, deixa de herança para seus filhos gêmeos duas cartas e uma missão: entregá-las ao pai que eles achavam que estava morto e ao irmão que nunca souberam que existia.

Esse é o ponto de partida de "Incêndios", a elogiada peça do libanês Wajdi Mouawad, que rendeu um filme igualmente célebre, em 2010, e estreia amanhã no Teatro Poeira, no Rio em montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho e protagonizada por Marieta Severo. A peça chega a São Paulo após o Carnaval.

Terceira parceria do casal --depois de "Sonata de Outono" (2005) e "As Centenárias" (2007)--, a peça é um drama familiar que tem suas origens em um cenário de guerra civil e é narrada com saltos temporais e deslocando-se entre Ocidente e Oriente.

"É um texto político, como era política a tragédia grega, e essa dimensão é ótima", diz Aderbal. Me interessa não só o lado político, mas o choque cultural que a peça mostra, essa dimensão do homem, a capacidade de ações que ele sequer é capaz de imaginar."

Apesar de seu contexto político refletir a trajetória do autor --um refugiado libanês que deixou seu país aos 10 anos, em meio à guerra civil, e passou pela França antes de se radicar no Canadá--, o texto não situa a ação em nenhum país definido.

"O bonito da peça é isso, permite imaginar qualquer tipo de luta de irmão contra irmão. Posso pensar aqui, nas nossas guerras civis veladas, onde pessoas são massacradas, mortas, desaparecidas", diz Marieta, que interpreta a protagonista, Nawal Marwan, em três fases de sua vida, a partir da adolescência.

A atriz, também uma das produtoras da peça, se interessou pelo projeto após receber o texto, enviado por alguém que ela não conhecia, o ator Felipe de Carolis, 24.

O Felipe é o herói do projeto, ele assistiu ao filme, viu que era baseado em uma peça e foi atrás. Embarcamos no sonho dele com a maior força, quando lemos o texto sentimos que estávamos com um material genial, com possibilidades cênicas enormes."

Apaixonado pela história e decidido a encená-la, o jovem ator, que interpreta um dos filhos da protagonista, entrou em contato com os representantes de Mouawad em 2011, e precisou improvisar.

"Eles só me liberariam o texto depois de saber qual seria minha companhia, e eu disse que era a do teatro Poeira, com o Aderbal e a Marieta, disse que ela era a Meryl Streep brasileira. Eu não tinha conseguido falar com ninguém até então."

O truque funcionou e, com o texto em mãos, Felipe foi buscar uma produtora.

"Todos os produtores do Rio me disseram não. Falavam isso é uma tragédia, é pesadíssima, ninguém quer sair arrasado do teatro", diz o ator, que acabou se tornando também produtor.

Decidiu escrever para Marieta de qualquer modo, e em dois dias ela respondeu dizendo que queria fazer uma leitura. Daí para convencer Aderbal, que não havia assistido ao filme, foi um pulo.

Marieta, que havia visto "Incêndios" nas telas, teve dúvidas se a comparação com o filme não seria desfavorável --logo sanadas, nas primeiras sessões fechadas da peça.

"As pessoas se surpreendem com a força do teatro, da palavra, que é algo em que o Wadji aposta muito. Como o Aderbal é o rei da fé no teatro, ficou uma mistura bonita."

Além da montagem, o texto original de "Incêndios", está sendo lançado em livro pela editora Cobogó (R$ 30, 144 págs.).


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