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Crítica - Romance

Livro narra vida melancólica de romeno na Europa pós-1989

O ROMANCE 'ESQUILOS DE PAVLOV' APRESENTA O ARTISTA COMO O 'HERÓI DO NOSSO TEMPO'. MAS QUE HERÓI IRRISÓRIO!

ALFREDO MONTE ESPECIAL PARA A FOLHA

Associe-se o elogio a um drinque em um discurso sobre o que seria uma autêntica vanguarda artística, pronunciado por uma senhora de sobrenome Pavlov para artistas ganhadores de bolsas de uma fundação em Copenhague, a uma passagem de Katherine Mansfield ("Minha mente parecia um esquilo. Eu juntava e juntava coisas, e depois as escondia, para quando chegasse um longo inverno") e a tenebrosas experiências com presos em regimes totalitários, e se terá ideia da educação sentimental do romeno Ciprian Momolescu, o narrador de "Esquilos de Pavlov".

Após passar em branco na "Granta - Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros" com o fraco "Aquele Vento na Praça", conto em que Romênia e arte são igualmente pontos de fuga, Laura Erber nos propõe um ambicioso móbile narrativo, em que microhistórias se entremeiam à melancólica trajetória de Ciprian numa Europa pós-1989 em cujas ramificações territoriais a vida de artistas forma um mosaico da tensão entre a pretensa liberdade de ação/criação e condicionamentos, expectativas de recompensa.

De fato, o universo das artes plásticas, em suas formas contemporâneas, em meio às quais é preciso discernir pesquisas legítimas dos charlatanismos, o desafiador e o "novo" do que já nasce velho, e pairando sobre tudo, o monstro da "curadoria", se presta maravilhosamente a uma reflexão desse gênero.

Pena que Erber incida em um traço mistificador ao espalhar pelo texto, procurando talvez um diferencial, fotos que nada acrescentam.

O romance apresenta o artista como o "herói do nosso tempo". Que herói irrisório! Na multiplicação de referências a obras de vários campos, o livro leva o leitor a se perguntar se esse não se trata de um nicho tão encastelado, esgotado em sua linguagem, quanto o do Congresso ou o da pós-graduação.

Mas a forma vigorosa com que a autora o evoca pode ser mais bem descrita por uma de suas personagens, que classifica as formas de ficção possíveis: uma delas, a "autoindulgente, porém com brio".


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