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Fotógrafa embaralha documento e ficção

Espanhola Cristina De Middel é um dos maiores nomes da nona edição do Paraty em Foco, que termina hoje

Artista expõe série sobre astronautas da Zâmbia e critica fotos 'exóticas' que distorcem a África

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Não parece verdade, mas é. Nos anos 1960, enquanto EUA e Rússia brigavam pela vitória na corrida espacial, a Zâmbia também criou um programa para enviar 12 astronautas e dez gatos à Lua.

Imagens deles, de uniformes com babados de palha e capacetes equipados com mangueirinhas de aspirador de pó, também foram feitas na superfície lunar, onde avistaram elefantes extraterrestres e outros bichos grandes e exóticos --só que não.

A espanhola Cristina De Middel, um dos maiores nomes da nona edição do festival Paraty em Foco, que termina hoje, criou a mise-en-scène e fez parecer real o sonho nunca realizado pelo pequeno país no sul da África.

"Tento contar histórias de verdade usando recursos da ficção. Busco histórias incríveis, mas verdadeiras, ou que são mentira, mas poderiam ser verdade", diz De Middel.

A artista, que começou como fotojornalista, dissolve fronteiras entre o documental e exercícios de ficção.

Quando quis fazer uma série sobre a vida de uma prostituta, primeiro focou aspectos reais de sua rotina. Mas viu que as edições que tentavam fazer do trabalho exacerbavam os momentos mais dramáticos, ou clichês.

"Tive de driblar as regras do fotojornalismo. Elas limitam minhas possibilidades de contar uma história", diz.

Sua solução foi descartar a realidade para narrar o que chamou de "verdadeira história de uma falsa prostituta" em uma espécie de Bíblia profana batizada "Vida e Milagres de Paula P.".

De Middel também encenou com atores retratos estapafúrdios de personagens por trás daquelas correntes de e-mail que prometem ao destinatário uma fortuna caso respondam à mensagem.

Estão lá uma loira em um palácio em ruínas, um juiz em um escritório vazio, uma cartomante, um yuppie e afins.

"São pessoas que não existem", diz a artista. "Mas uma imagem mostrada ao lado desse tipo de mensagem dá certa validade àquilo, já que uma foto tem o peso do real."

De Middel, que viajou pela África para compor a série sobre os astronautas da Zâmbia, critica a imagem que se tem daquele continente. "Quando alguém digita África' no Google, aparecem crianças famintas e elefantes. A África sofreu a pior campanha de marketing depois da era colonial, é culpa da foto que se quer exótica."

Na tentativa de desmontar clichês, De Middel acaba de voltar da China, onde criou sua nova série. São cenas de rua justapostas a páginas rasuradas do "Livro Vermelho" de Mao, motor da Revolução Cultural nos anos 1960.

Distorcendo a mensagem, ela fotografa uma garota dançando na balada para ilustrar frases alteradas como: "Se deve haver revolução, deverá haver uma festa".


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