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Crítica - Comédia dramática

Sobriedade visual ressalta a dramaturgia rica de 'Tribos'

MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO

As querelas de uma família bastante idiossincrática são o mote da peça "Tribos". O pai é um crítico acadêmico sarcástico; a mãe, aspirante a escritora; a irmã canta ópera em pubs; o irmão superprotetor escreve uma tese sobre linguagem e significado.

A narrativa fecha-se nas relações desses membros com Billy, o primogênito surdo e o eixo dramático em torno do qual circulam as insatisfações e as cobranças narcisistas dos outros personagens.

O elemento exógeno a esse sistema é sua namorada, às vias da surdez, que adentra o clã perturbando esse instável núcleo doméstico.

A astúcia do diretor Ulysses Cruz foi em não privilegiar nenhum papel em detrimento de outro na composição, visto que todos os personagens têm riqueza ficcional.

Antonio e Bruno Fagundes, pai e filho também na ficção, não são desiguais em importância na trama. Como todos ali, são apenas peças de um quebra-cabeça genealógico.

Além de conceito, essa equidade de vozes é prática; em várias passagens, todos falam ao mesmo tempo, num uníssono quase ininteligível.

Essa sobreposição de falas ilustra o estranhamento de Billy no mundo dos ouvintes; assim como a ousadia do encenador ao utilizá-la em um teatro grande, sem microfone acoplado aos atores.

O caráter episódico da montagem, dividida em nove cenas interpostas entre blackouts, é benéfico à exposição dos fatos, já que as breves pausas preparam terreno para novas configurações dramáticas e permitem a reestruturação da mobília.

A cenografia de Lu Bueno e a iluminação de Domingos Quintiliano prezam pela sobriedade: um piano de cauda, uma mesa moderna rodeada de cadeiras de design refinado, tudo sob uma luz suave e à frente de projeções que simulam papéis de parede.

É positivo o contraste entre esse comedimento imagético e a opulência verborrágica do texto da dramaturga britânica Nina Raine.

Apesar das conversas intelectualizadas, o cerne do enredo é de fácil apreensão e carrega um humor de rara inteligência, embora haja obviedade em alguns desfechos.

O figurino de Alexandre Herchcovitch alude à discrição inglesa, com vestuário em tons escuros e cortes justos bem contemporâneos.

Com estrutura simples, sem malabarismos cênicos ou embustes, a peça funciona sobretudo por sua dramaturgia cativante, ou seja, por contar uma boa história.


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