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Fantasmas da ópera

Brigas, suspeitas de sabotagem e perfis falsos na rede assombram gestão de Neschling no Municipal

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Oito meses após assumir a direção artística do Theatro Municipal, o maestro John Neschling já pode novamente ser comparado a uma tábua de tiro ao alvo.

Não é surpresa. Muita gente acompanhou a história do maestro que elevou a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo ao nível do reconhecimento internacional.

É de conhecimento público o temperamento que lhe rendeu o apelido de Neschlíngua, bem como o episódio em que ele, em 2007, chamou o então governador José Serra de "menino mimado". Começou ali a sucessão de fatos que resultou em sua demissão da Osesp, em 2009.

Agora à frente do Municipal, Neschling mostra não temer inimizades. André Heller-Lopes, diretor de carreira internacional que, em abril, dirigiu "Ça Ira", de Roger Waters, tornou-se uma delas.

Após desentendimentos, Neschling cancelou a encenação de Heller-Lopes para "O Ouro do Reno". A ópera será apresentada em novembro em forma de concerto.

É a segunda determinação do Municipal a atingir o encenador. Dias antes, o maestro havia cancelado participação dele na grade de 2014.

Heller-Lopes diz que não foi informado do motivo real do cancelamento de "O Ouro do Reno". Mas desconfia de uma razão: foi dispensado após criticar, no Facebook, a contratação de cantores estrangeiros "genéricos".

"Tenho o direito de dar opinião, ainda mais na minha página no Facebook. Não é motivo para cancelar um trabalho", diz o diretor.

Na rede, ele não fez menção direta ao Municipal. Mas a relação é clara: a temporada lírica prevista por Neschling contratou 33 nomes internacionais, contra 53 brasileiros. Protagonistas foram distribuídos principalmente entre os que vêm de fora.

Virada a página, nesta terça, o Municipal anunciou aos músicos dos corais Lírico e Paulistano, ambos ali sediados, que os grupos serão fundidos. A notícia gerou mal-estar, relatam cantores. Há medo de demissões.

Mas, por ora, o pesar diz respeito ao fim do Paulistano. Criado por Mário de Andrade em 1936, o coro consolidou repertório muito particular, com músicas à capela, para concertos e de compositores brasileiros. "Ele representa uma conquista cultural da cidade", diz o maestro Tiago Pinheiro, que regeu o conjunto até o início deste ano.

"Ao idealizá-lo, Mário quis introduzir no Municipal a potência da música brasileira. No que vai dar a redução a um único coro, voltado à ópera europeia? Não seria um retrocesso à monocultura com que Mário sonhou romper?

ATRÁS DA CORTINA

Antes da temporada no segundo semestre, já haviam surgido manifestações contrárias a Neschling. Perfis criados anonimamente na internet passaram a criticar a contratação de estrangeiros.

Com o nome "Bidu Sayão Ressuscitada", alguém que mostra conhecer meandros do Municipal passou a fazer críticas com foco na seleção de estrangeiros e no fato de Neschling ter contratado 15 cantores da InArt, a mesma agência que o representa.

A Folha entrevistou a falsa Bidu por internet. "Este perfil nasceu do medo da agressividade de Neschling. Ninguém nega que esconder-se por trás de um perfil tem algo de covarde, mas a covardia nasce do medo", disse.

O que parecia um ensaio amador, em agosto, passou a preocupar o Municipal. Um dia antes de uma sessão de "Aida", funcionários do teatro encontraram um cabo do elevador de palco rompido. Houve registro policial. A suspeita de sabotagem ganhou corpo um mês depois.

Nos dias 15 e 17 deste mês, sessões da ópera "Don Giovanni" foram interrompidas por quedas de energia ocorridas na mesma cena, no momento em que a personagem Donna Anna grita por socorro. Um dia depois, a 3ª DP passou a investigar o caso.

Sabotagem? Erro? Paranoia? Sem prazo para o laudo, espera-se novo capítulo.


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