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Crítica - Drama
Peça fúnebre acerta na chave do drama, mas falha na tragédia
MARCIO AQUILES DE SÃO PAULOA pergunta que o espetáculo "A Toca do Coelho" inicialmente levanta é: como expressar cenicamente a subjetividade das dores do luto?
Na peça do dramaturgo americano David Lindsay-Abaire, agraciada com o Prêmio Pulitzer em 2007, temos a história de Becca (Maria Fernanda Cândido) e Paulo (Reynaldo Gianecchini), abalados pela perda do filho, atropelado oito meses antes.
Na ânsia por atingir uma dramaticidade elevada, Gianecchini interpreta alguns tons acima no volume de voz e falha no gestual excessivo. Maria Fernanda Cândido, por sua vez, alcança a densidade de seu papel, pela postura sóbria, o comedimento no andar, a economia de gestos.
Apesar dos saltos temporais, praticamente não há troca de figurino --Becca permanece imutável do começo ao fim--, o que pode ser entendido como uma bela metáfora para congelamento emocional dos personagens.
A cenografia de André Cortez baseia-se em elementos recorrentes em seu trabalho: estruturas móveis e divisões ortogonais do palco; conceitos que enfatizam os labirintos sentimentais por onde perdem-se os personagens.
Os cômodos são representados por cubos brancos, cujas faces superiores recebem projeções de vídeo estilosas, meio retrôs, que são o destaque do desenho de luz ao lado dos efeitos visuais ao final.
Selma Egrei acerta o tempo dos comentários inconvenientes da mãe de Becca, mas Simone Zucato carrega demais na estridência da irmã tresloucada. Como contraponto, há a atuação circunspecta de Felipe Hintze, como o adolescente atropelador.
A peça realiza-se mais plenamente nos momentos de silêncio, no olhar desamparado de Becca, na polidez culposa do rapaz em busca de redenção pelo acidente, momentos de drama bem coordenados pelo diretor Dan Stulbach.
Nas cenas de brigas ou discussões, porém, ao buscar uma intensidade emocional limítrofe, o elenco perde a medida do razoável e soa artificial demais na tentativa de ampliar o aspecto trágico.