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Crítica - Drama

Costa-Gavras faz obra vigorosa sobre armadilhas e escrachos do capitalismo

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

A regra é socializar os prejuízos privados, e a banca age como um Robin Hood moderno --só que rouba dos pobres para dar aos ricos. Para isso, é preciso trair, conspirar, espionar, demitir. Tudo com muita ostentação e luxo: jatinhos, carrões, jantares, desfiles e hotéis magníficos não faltam.

Esse retrato crítico da realidade é o âmago de "O Capital", novo filme do premiado Constantin Costa-Gavras. Aos 80 anos, o cineasta greco-francês faz uma obra vigorosa, com ritmo intenso. A trama se desenvolve em torno de um executivo de um grande banco europeu sediado em Paris. Guindado à presidência, ele fala em práticas éticas e diz pretender abandonar os negócios com lavagem de dinheiro.

Bobagem. Pressionado por acionistas e deslumbrado com o mundo de extravagâncias em que passa a viver, o executivo, interpretado por Gad Elmaleh, se vê enredado e vira presa em armadilhas. A principal delas está em Miami, onde opera um agressivo acionista (Gabriel Byrne).

Nesse embate entre a França e os EUA, fica evidente que não há diferenças essenciais entre o capitalismo europeu e o norte-americano. Como a crise desencadeada há cinco anos deixou claro, todos estavam inundados de papéis podres. No filme, o protagonista afirma com ironia a um parente de esquerda durante um jantar de família: a verdadeira internacional já foi construída --é a dos bancos.

Gavras é um craque do filme político e nos últimos anos tem se preocupado em expor as mazelas do capitalismo. Foi assim em "O Corte" (2005), que trata do desemprego, e "Éden a Oeste" (2009), sobre os migrantes pobres.

Em "O Capital", ele vai ao cerne da política e da economia. A questão do desemprego volta, com crueza. O presidente do banco planeja um grande corte de vagas --e quer ganhar bônus em razão do número de demitidos. Numa mirabolante estratégia, busca no líder comunista Mao Tse-tung ensinamentos para usar um sistema de avaliação para legitimar as dispensas.

Gavras não faz uma obra sobre a crise --esmiuçada em "Trabalho Interno" (2010), de Charles Ferguson. Faz sobre o estágio atual do capitalismo, que vive de crises. Sem ser doutrinário, o filme prende. Embora, às vezes, as contradições do protagonista sejam expostas de forma abrupta.

Alguns podem achar o resultado maniqueísta ou caricatural. Mas uma leitura atenta do noticiário mostra que a realidade, ainda que envolta em suposto glamour, é ainda mais escrachada que a ficção.


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