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Mostra exibe longa proibido pelo nazismo
'Nathan, O Sábio', filme mudo de 1922, foi restaurado e será apresentado no dia 26, em São Paulo, com orquestra
Épico germânico banido na Alemanha de Hitler foi encontrado em Moscou, em 1996, com outro nome
A exibição de um filme mudo acompanhado de orquestra já virou programa anual disputado durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Na projeção levada ao Ibirapuera, clássicos como "Nosferatu" (1922) e "Metrópolis" (1927) atraíram mais de 15 mil pessoas cada um nos dois últimos anos.
A aposta da 37ª Mostra para a projeção prevista para 26/10 é mais arriscada: "Nathan, O Sábio" (1922), de Manfred Noa, não é tão conhecido quanto seus antecessores. Em compensação, tem histórias de bastidores que dariam um filme dramático.
A peça homônima de Gotthold E. Lessing (1729""1781) nunca foi encenada com o autor em vida por causa da proibição da Igreja Católica, que achou o material ofensivo.
Usando Jerusalém durante a Terceira Cruzada como pano de fundo de uma trama sobre como cristãos, muçulmanos e judeus são levados a uma guerra sem nexo, o texto critica a devoção religiosa.
A adaptação de Noa sofreu dificuldades ainda maiores. Em 1922, prestes a ser lançado, o filme foi levado para a aprovação do Conselho de Censores de Cinema de Munique e foi mantido "em suspenso" por representar "perigo à segurança pública".
A razão, por baixo das palavras oficiais, era mais específica: no fim do longa, Nathan, um judeu, consegue unir todas as forças opostas.
PERDIDO
Com a ascensão do partido nazista e o crescente antissemitismo na Alemanha, o filme foi também perseguido. Um dono de cinema em Munique chegou a receber ameaças dedetratores da obra, que deixariam o local "em pedaços" se ele exibisse "Nathan, O Sábio".
Não há registros de sua exibição durante o regime de Adolf Hitler. O filme foi, então, considerado perdido.
"A equipe do Museu do Cinema de Munique encontrou uma cópia em 1996, em Moscou, com o nome errado de A Retomada de Jerusalém'", conta Stefan Drössler, que ficou responsável pela restauração, completa apenas dez anos depois da descoberta.
"O filme estava quase completo, não havia reconstrução para fazer. A principal tarefa era cuidar da qualidade da imagem e corrigir as cores."
A escolha para ser exibido pela primeira vez na Mostra tem importância histórica.
"O filme é um dos poucos documentos históricos remanescentes da produção cinematográfica de Munique e um dos poucos de um diretor cujo nome foi apagado da história pelos nazistas", afirma Drössler.
Além disso, a Orquestra Petrobras Sinfônica, sob o comando de Carlos Prazeres, terá a adição do músico libanês Rabih Abou-Khalil, que compôs a trilha para a ocasião e é um dos maiores especialistas em oud, uma espécie de alaúde (instrumento de cordas) árabe.