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'Mago' renega versos de 'Sociedade Alternativa'

ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA

"Sociedade Alternativa", a música de Raul Seixas e Paulo Coelho que Bruce Springsteen cantou em seus recentes shows no Brasil, faz parte do LP "Gita" (1974), uma obra-prima do rock brasileiro.

A canção é uma ode ao ocultista inglês Aleister Crowley (1875-1947), criador da religião de Thelema. Crowley foi um personagem polêmico, um bruxo que se autoproclamava "Grande Besta 666" e defendia o sexo livre e o uso de drogas.

A letra cita trechos do "Liber Oz", texto com declarações de princípios da Thelema. Raul declama: "Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei" e "Toda homem e toda mulher é uma estrela", além de citar o nome de Crowley e dar vivas ao "Novo Aeon", a era que, segundo os crowleyanos, marcaria o domínio da Thelema no mundo.

Aleister Crowley foi cultuado pela contracultura. Os Beatles o homenagearam na capa de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967). Jimmy Page, líder do Led Zeppelin, era um seguidor, e David Bowie gravou um LP inspirado por seus ensinamentos ("Station to Station", 1976).

Mas não há notícia de uma canção pop tão claramente propagandística de Crowley quanto "Sociedade Alternativa". Difícil acreditar que uma música radical dessas foi lançada por uma gravadora multinacional --Philips-- em meio à ditadura no Brasil e com direito a clipe no "Fantástico". Ao longo dos anos, a canção virou hino de rodinhas de violão e teve seu sentido e radicalidade totalmente deturpados. Uma pena.

Até o fim da vida, Raul foi um seguidor de Crowley. Já Paulo Coelho abandonou a Thelema ainda em 1974. Na última vez que se viram, em 1989, os parceiros cantaram "Sociedade Alternativa" para um Canecão lotado. Mas Paulo não cantou o trecho "Faz o que tu queres...": "Eu já havia renegado tudo isso", disse o Mago.


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