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Crítica - Artes plásticas

'30 x Bienal' traz recorte óbvio de sua história

Sem ousadia, exposição que remonta a trajetória da instituição não destaca sua importância para a arte brasileira

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

"Diga conosco BU-RO-CRA-CIA." Esse texto --parte de um obra sem título de Anna Bella Geiger de 1979 que critica o sistema da arte-- é a melhor síntese da mostra "30 x Bienal - Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª Edição".

O trabalho de Geiger é um dos 220 de 111 artistas brasileiros selecionados pelo curador Paulo Venâncio Filho, que percorrem 30 edições da Bienal de São Paulo desde sua primeira edição, em 1951.

Contudo, longe de apontar a contribuição da Bienal ao cenário artístico brasileiro, a mostra se resume a uma seleção de artistas já consagrados na historiografia nacional. E, pior, a maioria das obras expostas sequer foi vista de fato na Bienal, além de pertencerem a poucos colecionadores.

Assim, "30 x Bienal" é superficial e desnecessária, já que se resume a um percurso óbvio da produção artística brasileira, que pode ser bastante didático, mas não traz nenhuma pesquisa de fôlego sobre a importância da instituição.

A história das exposições é uma nova área em desenvolvimento e tem sido objeto de muitos estudos. Ela serve para se compreender como os discursos das curadorias podem criar novas formas de percepção da produção artística e lançar debates que suscitem novos caminhos para essa produção.

Sem dúvida, em suas 30 edições, a Bienal foi essencial para o meio artístico brasileiro e motivou muitas transformações.

A 17ª edição, organizada por Walter Zanini em 1983, ressaltou a performance e as novas mídias, enquanto a 18ª edição, organizada por Sheila Leirner, polemizou o retorno da pintura --para ficar apenas em dois exemplos.

Pois os artistas dessas duas edições que participam de "30 x Bienal" não aparecem contextualizados, como se a instituição não tivesse introduzido um importante debate nesse período.

Mesmo uma das poucas obras de porte da mostra, "Ondas Paradas da Probabilidade", de Mira Schendel, é vista sem sua relação com o momento nacional. Ela tomou parte da 10ª edição, de 1969, a chamada Bienal do Boicote, por conta do recrudescimento da ditadura.

As poucas referências à história da Bienal são fotos ampliadas que mostram como algumas obras foram exibidas. É muito pouco para uma instituição tão essencial.

O modelo que Geiger criticava no sistema das artes nos anos 1970, burocratizado, sem pesquisa, sem ousadia, acabou sendo incorporado pela Fundação Bienal.


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