Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Wong Kar Wai filma seu 'kung fu intimista'

'O Grão-Mestre', do diretor chinês, traz a história de Ip Man, mentor do astro Bruce Lee

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

Dois grupos de fãs muito apaixonados tinham muito a temer "O Grão-Mestre", o novo filme de Wong Kar Wai --os fanáticos do kung fu e a legião de seguidores do cineasta chinês.

Wong traz, em seu primeiro filme inédito em seis anos, a história de Ip Man, considerado o grande nome das artes marciais, que foi o mentor de Bruce Lee, o astro do kung fu de Hong Kong durante os anos 1970.

Em nome da ação, sacrificaria o cultuado diretor suas paixões arrebatadoras ou seu ritmo lento e estilizado, como em "Amor à Flor da Pele" (2000) e "2046 - Os Segredos do Amor" (2004)? Haveria pouca luta e muita falação?

Wong fez um filme igualmente estilizado e reflexivo, mas com lutas acrobáticas e delirantes.

"O Grão-Mestre" mostra que as artes marciais chinesas estavam divididas entre as escolas do norte e do sul da China. E para quem acha tudo a mesma coisa, o filme mostra com precisão os diferentes usos das mãos e dos dedos, que armas podem ser usadas e as tradições regionais, com uso de filtros, câmera lenta e trilha operística.

Até "Casta Diva", da ópera "Norma", de Bellini, e composições do italiano Ennio Morricone servem de cenário musical para as lutas: balés aéreos em diferentes velocidades, sem a frieza "high tech" do filme "Matrix", nem o barroquismo de Zhang Yimou em "Herói".

"O Grão-Mestre" é um kung fu intimista, se é que isso é possível.

Ip Man (Tony Leung Chiu Wai, de "Amor à Flor da Pele" e "2046") é desafiado (e derrota) o grão-mestre do Norte da China.

Logo após, o filme acompanha suas andanças durante a ocupação japonesa daquele país, quando o herói se nega a colaborar com os invasores, e após a Revolução Comunista, fugindo para Hong Kong.

LICENÇA POÉTICA

Quando não está lutando, Ip Man se transforma em um típico personagem masculino dos dramas do cineasta: ele reflete sobre tradição, estilo, honra e a relação complicada com mulheres ainda mais complexas.

Em diversas cenas, um Ip Man sentado e meditativo é acompanhado por figurantes passando por ele em câmera acelerada.

A solidão do guerreiro é realçada pelo desejo reprimido que possui pela filha do grão-mestre derrotado, Gong Er (Zhang Ziyi, de "O Tigre e o Dragão" e "O Clã das Adagas Voadoras").

Ela aprendeu com o pai como se constrói um mestre e seu desejo de revanche é o obstáculo para se envolver com Ip Man.

Mas o cineasta Wong Kar Wai injeta sua linguagem no "filme de kung fu", que é o gênero mais popular do cinema de Hong Kong.

Licença poética é o que não falta em "O Grão-Mestre": até "chopsticks" de metal (aqueles palitos' utilizados para comer comida chinesa) são usados em batalhas. Já a musa Zhang Ziyi luta vestindo um casaco de peles, em uma estação ferroviária enfumaçada, em uma das coreografias mais abstratas do filme.

Os clichês do kung fu estão lá, mas o filme é um legítimo Wong Kar Wai.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página