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Crítica Romance
Realismo mágico de 'A Filha das Flores' tem pouco espanto
NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHAAdalgiza mora numa cidade atemporal e sem localização definida, mas que se parece com algum lugar no interior profundo do Brasil, onde convivem a religião e as crendices, onde a vida é bisbilhotada, as crianças perseguem formigas e flores crescem nos quintais.
Entretanto, a protagonista de "A Filha das Flores", primeiro romance de Vanessa da Mata, é cercada por um segredo que ela descobre aos poucos, por cifras indiretas.
Há Tito, rapaz misterioso por quem Giza se apaixona; a empregada Odézia, cheia de mistérios; uma vila proibida próxima à cidade, onde moram prostitutas e loucos, seguidores de uma seita fantástica, além de pistas de mortes num passado recente.
Todos parecem ter conhecimento do que se passa, a não ser Giza, que, à medida que cresce, se posiciona e, ingenuamente, busca se libertar de sua estranha prisão.
A linguagem do romance busca fundir --de forma desigual-- a verossimilhança do regional à narrativa fantástica e ao lirismo das imagens e do ritmo das frases.
O enredo lembra o realismo mágico latino-americano, em que o peso da religião e da moral se alia a superstições perversas, para ser finalmente desafiado pelo inocência e pelo amor.
Mas, apesar da boa costura, a narrativa sofre com o excesso de lugares-comuns, de reflexões desnecessárias à dinâmica e uma sensação de certo "déjà-vu": "revoada de araras", "sorvia-o em estado de esplendor", "não se pode olhar uma flor sem o coração, geralmente é ele quem as vê".
As descobertas de Adalgiza, embora envolventes, soam pueris em seu objeto, mas principalmente na maneira algo maniqueísta como ele vai sendo desvendado.
Num gênero já tão explorado como o realismo mágico, a intensidade do espanto --fundamental à literatura-- deveria ser maior.
A FILHA DAS FLORES
AUTORA Vanessa da Mata
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34,50 (280 págs.)
AVALIAÇÃO regular
