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Crítica - Drama

Enigma e ambiguidade são base de 'O Exercício do Caos'

O FILME NOS PROJETA NUMA ORDEM DE PREOCUPAÇÃO E DALI NÃO NOS RETIRA, ISTO É, NÃO NOS 'SALVA'

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Para sorte de "O Exercício do Caos", a primeira impressão não é a que fica. Porque a primeira é um tanto desanimadora: estamos num quadro rural, um pai silencioso e três filhas idem, a fabricação da farinha de mandioca num lugar ermo e pobre... Parece que voltamos ao cinema do Nordeste de 50 anos atrás.

Mas é apenas a primeira impressão. O filme de Frederico Machado (realmente "de": ele dirige, escreve, fotografa e produz) evolui para algo bem menos batido e logo nos faz lembrar de que não apenas assistimos a um longa maranhense, uma raridade, como que ali está implicada uma paixão pelas imagens.

Esse mundo desanimador se deixa invadir pelo lendário, isto é: a história do homem bem apessoado que ficava à margem de um rio. Esse rio era vedado às mulheres aproximar-se, pois o homem as levaria. E daí por diante estamos nesse território cheio de ambiguidades em que nunca se sabe quem é pessoa ou quem é figura, o que é ideia ou matéria.

Será aquela imagem de mulher a mãe das meninas? Uma imagem lembrada ou apenas imaginada? Será só uma fábula que o pai conta às filhas para se consolar pelo abandono ou terá a mulher de fato desaparecido?

O filme nos projeta nessa ordem de preocupação e dali não nos retira, isto é, não nos "salva" pela explicação. É um enigma, límpido como as águas daquele rio, denso como a vegetação do local.

Trata-se de algo que aceitamos em outras cinematografias melhor do que na nossa, onde esse gênero é estranhamente raro, já que vivemos num país de crendices.

Ao contrário de Edgar Navarro e seu "O Homem que Não Dormia", o fantástico de "O Exercício do Caos" é menos político e mais fechado no núcleo familiar desse engenho onde, no princípio, parece que só se vai produzir farinha. Não, o filme vai bem mais longe.


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