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Asterix volta a viajar, 'sob nova direção'
Após 8 anos, HQ ressurge assinada por dupla francesa que substitui Uderzo e Goscinny, criadores da trama original
Em sua 35ª aventura, personagem gaulês vai à Escócia para ajudar guerreiro a reencontrar amada e encerrar guerra
Já era hora de Asterix e Obelix voltarem a cruzar o canal da Mancha, que liga a Europa à atual Inglaterra. Quase 50 anos após encontrar os bretões, a dupla gaulesa agora conhece os primos de saiote kilt em "Asterix Entre os Pictos", nas terras escocesas.
A viagem em quadrinhos assinada pelos franceses Jean-Yves Ferri e Didier Conrad é a primeira sem a participação direta dos criadores: o artista gráfico Albert Uderzo e o roteirista René Goscinny (1926-1977).
Ferri e Conrad falaram à Folha sobre a primeira aventura dos gauleses em oito anos, desde o insólito "O Dia em que o Céu Caiu".
"Tivemos que cumprir o estilo visual da narrativa e o espírito geral da série. Era como tentar criar uma nova história dentro de um contexto específico. Somos muito mais livres em nossas obras próprias, mas a arte prospera nas restrições", explica Conrad.
Na série criada em 1959, Asterix é um guerreiro admirado na Gália (parte de França, Bélgica, Alemanha e Itália atuais) por sua astúcia e coragem. Seu melhor amigo é o grandalhão Obelix, escultor de menires, com força e apetite descomunais. Ambos têm força sobre-humana graças a uma poção mágica.
HOMENS PINTADOS
Nessa nova trama que acaba de sair no Brasil, os heróis acham um guerreiro dos pictos ("homens pintados" que viviam nas terras escocesas) preso em bloco de gelo que vai parar na costa da Gália.
Para ajudá-lo a voltar e reencontrar sua amada, eles vão à Caledônia, onde enfrentam uma disputa de clãs, conhecem o uísque e o lar do Monstro do Lago Ness.
Ainda que não tenha participado da concepção de "Asterix Entre os Pictos", Albert Uderzo, 86, acompanhou de perto o trabalho dos novos autores. Ele se manteve como roteirista e artista gráfico da série após a morte do parceiro, em 1977, e anunciou sua aposentadoria em 2011.
No trabalho solo de Uderzo, a série ficou com um humor menos sutil e se tornou mais política. Com a nova dupla, o gaulês se torna uma espécie de francês atrapalhado, como os tipos do cineasta cômico Jacques Tati.
"A ação ainda é centrada nas relações humanas e sociais de uma pequena comunidade", explica Ferri. Ele rebate as críticas a um suposto direitismo e nacionalismo dos personagens gauleses: "não há política em Asterix'".
Ferri é escritor, colorista e co-criador da HQ de humor "Le Retour à la Terre".
Conrad criou histórias para a revista belga "Spirou" e trabalhou em animações da Dreamworks.
Na França, o sucesso comercial do trabalho deles surpreendeu fãs que temiam modificações demais na série.
