Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Drama

'Bola de Ouro' reavalia o passado a partir de tempo sem utopias

Diretor Marco Antonio Braz coloca em cena elementos teóricos do dramaturgo e ensaísta Jean-Pierre Sarrazac

OS PERSONAGENS DA TRAMA REPRESENTAM ALEGORIAS IDEAIS, ARQUÉTIPOS QUE REAVALIAM SEU PASSADO REVOLUCIONÁRIO EM UM TEMPO JÁ DESMITIFICADO E SEM UTOPIAS

MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHA

"Bola de Ouro", o título da peça do ensaísta e dramaturgo francês Jean-Pierre Sarrazac, remete ao nome de um extinto café parisiense frequentado por jovens com ideais revolucionários no fim da década de 1960.

Os personagens dessa trama são representados como alegorias e nomeados segundo atributos que os definem.

Há o Escritor/Herói (Celso Frateschi), que virou um autor consagrado; o Jornalista (Walter Breda), editor de jornal; a Imóvel (Marlene Fortuna), uma pintora solitária; Pluvinage (Luiz Serra), que convoca anonimamente um encontro com seus antigos companheiros; e a Estagiária (Carolina Gonzalez).

O enredo trata essas figuras como personificações de modelos ideais, arquétipos que reavaliam seu passado revolucionário 30 anos depois, em um tempo já desmitificado e sem utopias.

A montagem estrutura-se sobre os preceitos teóricos estudados por Sarrazac em sua fortuna crítica, sobretudo em relação às formas dramático-épicas, definidas pelo autor como um híbrido entre o teatro épico e o dramático.

Desse primeiro gênero, temos uma série de apartes individuais dos atores, puramente narrativos, sem interação com o resto do elenco. Agem como rapsodos a relatar a fábula e sua ideologia.

Como contraponto, existem as cenas dramáticas, quando ocorre o confronto dialógico entre os atores.

O cenário propicia essa configuração, que favorece ora o isolamento, ora o contato. Cada personagem ocupa um dos quatro cantos do palco, em cima de plataformas elevadas. No proscênio, apenas Pluvinage, sentado de costas ao público soltando bravatas ou encarando-o com sarcasmo.

Enquanto um fala, os outros observam, ponderando silenciosamente por meio de gestos. Nunca fica claro se são discursos ou solilóquios. Na hora do embate, porém, invadem o espaço alheio para reafirmar suas ideias e finalmente dramatizar a ação.

HERANÇAS DE MAIO

A iluminação em azul, branco e vermelho e a bandeira francesa como capa de Pluvinage e echarpe da Imóvel reforçam a ambientação e o tom político do texto, uma reflexão ampla sobre as heranças de Maio de 1968 sobre o sujeito e a sociedade.

Ao contrapor em linguagem cênica o particular ao universal, o concreto ao abstrato, e o épico ao dramático, o diretor Marco Antonio Braz decodifica a complexa gramática da peça em códigos simples e apreensíveis.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página