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Crítica - Música erudita
Conservadorismo e arranjos fracos predominam em fusões
OS CROATAS DO 2CELLOS FORMAM MESMO UM DUO DE CÂMARA, COM AFINAÇÃO PERFEITA E ARTICULAÇÕES TRABALHADAS
SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHAO compositor cubano Leo Brouwer --ele mesmo um mestre das fusões-- costuma dizer que cabe à música clássica pensar o popular a partir de si mesma, de seus meios e suas técnicas.
De fato, como uma orquestra poderia competir com o ritmo de uma nação de maracatu ou com o pop digital de Michael Jackson (1958-2009)?
E se Brahms (1833-97) não precisa de levada pop para mudar a nossa vida, nenhuma banda de rock precisa gravar com a Sinfônica de Londres para legitimar o que se diz melhor com baixo, guitarra e bateria.
O trio vocal Il Volo se apresenta como sucessor de Os Três Tenores. Na faixa dos 18-20 anos, os meninos têm a juventude a favor --e pouco mais. Cantam com técnica lírica interpretações previsíveis de repertório convencional em arranjos medíocres.
Eles podem parecer populares para os eruditos, e eruditos para os populares; na verdade, fazem um amálgama daquilo que há de mais retrógrado em ambas as áreas.
Já os ingleses do Blake parecem mais naturais com sua técnica e repertório pop. São frutos da rica tradição inglesa de grupos vocais "a cappella", mas, ainda assim, o resultado é fraco.
Sua versão de "With or Without You" apenas pega carona na memória do vídeo do U2 de 1987 --mesma tonalidade e andamento, arranjo idêntico, quase nada de variação vocal.
Da mesma forma, os arranjos do sexteto de cordas brasileiro Six Rock Strings de hits do Nirvana, Deep Purple e Dead Kennedys carecem da ousadia necessária para transformar canção em música instrumental.
ORIGINALIDADE
Os violoncelistas croatas do 2Cellos, por outro lado, formam mesmo um duo de câmara, que toca juntíssimo, com afinação perfeita e articulações trabalhadas (vejam o "Largo" do concerto "BWV 1043" de Bach).
Seu "Welcome to the Jungle" (Guns N' Roses) recria o original com virtuosismo, e "Smooth Criminal" (Michael Jackson) surpreende pelo swing, concisão e originalidade timbrística.
É o tipo de apropriação feita com a autoridade de quem tem algo a dizer. Eles partem de uma escuta forte.
É uma fusão feita de dentro para fora.
