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Mulheres assumem o controle do R&B

Cantoras abandonam papel de fantoches de homens e começam a produzir álbuns e clipes em suas gravadoras

Solange Knowles lançou compilação com artistas mulheres; a inglesa FKA Twigs inova na sexualidade

CLARE CONSIDINE DO "GUARDIAN"

As mulheres que se tornam estrelas do R&B são muitas vezes retratadas como simples títeres: cantam, dançam e exibem umbigos sedutores. São os produtores do gênero, como Timbaland, Rodney Jerkins e The-Dream, que recebem os mais profusos elogios, e são os magnatas da música --todos homens, como L.A. Reid ou P. Diddy-- que ficam com o crédito pela criação de carreiras de sucesso.

Mas uma nova onda de mulheres chegou ao R&B para instigar mudanças. Não querem mais marchar ao som dos tambores (eletrônicos) alheios e estão criando gravadoras, dirigindo vídeos e assumindo o controle das mixagens de seus trabalhos.

Alguns meses atrás, Solange Knowles, irmã da cantora Beyoncé, criou a Saint Records, gravadora independente com a missão de "iluminar e alinhar um novo movimento de visionários contemporâneos do R&B, que desafiem os limites do gênero".

O primeiro álbum lançado pela gravadora, "Saint Heron", é uma atraente compilação. A mensagem é cristalina: a maioria dos artistas que o álbum apresenta são mulheres, entre as quais Kelela, Cassie e India Shawn, e em lugar dos machos alfa que saltam de cama em cama, o projeto destaca cantores e compositores como Sampha.

Solange não limita seus esforços a dirigir a gravadora; ela também compôs e produziu algumas das faixas da compilação ("Indo", de Cassie, e "Cash In", que ela mesma gravou). Cassie e Solange discutiram o desejo de assumir mais controle sobre o processo decisório em uma mesa-redonda reproduzida no site da gravadora.

Cassie afirma que "eu definitivamente passei por um longo período no qual todo mundo tomava decisões por mim. Meu objetivo era aprender mais rápido para que pudesse escapar a isso".

Liricamente, esse novo movimento de cantoras se liberta dos clichês que compositores homens atribuem aos papéis da mulher.

Kelela declarou sua intenção de compor canções em que não seja "nem a donzela, nem a vítima". E em "Indo", Cassie e Solange não parecem nem um pouco melancólicas quanto ao amor, e só expressam desejo de fumar seu baseado: "Uma baforada, duas baforadas, três baforadas, quatro baforadas", elas sussurram, apontando sutilmente para o fato de que, nos discos, são quase sempre os homens que têm o privilégio de acender unzinho.

A mudança não se limita a Solange e seus colegas de gravadora. FKA Twigs, de Londres, trabalhou em estreita colaboração com o produtor Arca em seu recente "EP2", mas manteve firme controle sobre as melodias e letras.

Os resultados são deliciosamente hipnóticos. Da mesma forma, sua idiossincrática apresentação visual desafia as normas: os vídeos que ela codirige têm noções desafiadoras de sexualidade, muito distantes de praticar felação em um martelo pneumático. Seu mais recente single, "Papi Pacify", por exemplo, é tão sensual quanto perturbador, com um homem de rosto indistinto enfiando os dedos na boca da cantora.

Só o tempo dirá se a autonomia feminina encontrará lugar entre as correntes dominantes do R&B. Mas a colaboração entre essas criadoras pioneiras, e seu desejo de assumir o controle artístico, trazem esperança de mudanças instigantes no som, mensagem e estética do gênero.


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