Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Ficção científica

Trama obscura é construída pela prosa virtuosa de Gibson

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ler William Gibson às vezes dá um trabalho dos diabos, mas vale a pena.

Quem se dispuser a encarar a prosa um tanto contorcida de "Território Fantasma", segundo romance da mais recente trilogia do autor americano-canadense, terá bons motivos para crer que o criador do conceito de ciberespaço continua em forma.

Gibson começou sua carreira como autor futurista, retratando hackers que conseguiam plugar seus cérebros diretamente em sistemas de realidade virtual no livro "Neuromancer", de 1984.

A trilogia da qual "Território Fantasma" faz parte, no entanto, se passa no presente, mas o cenário contemporâneo mostra o considerável grau de acerto das sacadas de futurologista do escritor nos anos 1980.

A começar pela ubiquidade da internet (embora ninguém ainda consiga ligá-la aos próprios neurônios).

Esse é o tema de uma das tramas paralelas do livro, na qual a ex-vocalista de rock Hollis Henry, tentando ganhar a vida como jornalista freelancer, vai para Los Angeles para entrevistar os pioneiros de uma nova forma de arte virtual.

A chamada "arte locativa" usa internet sem fio, GPS e computação gráfica para recriar a morte de celebridades ou monstros do fundo do mar.

O problema é que esse conjunto de tecnologias nasceu com propósitos militares, levando artistas-hackers e Hollis a se enredarem na trama de conspirações envolvendo a invasão americana do Iraque.

A outra subtrama do livro acompanha Tito, membro de uma família/organização mafiosa cubana de origem chinesa radicada em Nova York.

O trabalho de Tito é entregar iPods carregados com dados misteriosos a um velho, o que desperta a atenção de agentes que parecem estar ligados ao governo americano.

Se tudo isso soa obscuro, é porque é obscuro mesmo. O deleite do livro é principalmente a prosa de Gibson, competentemente traduzida por Ludimila Hashimoto.

Raros autores de ficção científica têm ouvido tão bom para metáforas, misturando referências da física quântica, da música pop e do mundo da moda com virtuosidade.

Não é preciso ter lido "Reconhecimento de Padrões", primeiro livro da série, para acompanhar a história (até onde é possível acompanhá-la, é claro), e há poucos personagens recorrentes entre um livro e outro. As muitas pontas soltas da série são amarradas em "História Zero", que sai no Brasil em 2014.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página