Folha de S.Paulo

Crítica música erudita

Composições de Bach ganham adaptações arrojadas em CDs

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

O paraibano é primeiro violoncelista do Theatro Municipal; o outro, nascido em Jundiaí, foi primeiro fagotista da Osesp. Em comum, os dois virtuoses têm o fato de lançarem CDs integralmente dedicados a Bach (1685-1750).

Seria mais correto dizer "aos" Bach, já que o CD duplo do fagotista Fábio Cury traz também a transcrição de uma sonata para flauta de Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788), um dos filhos do famoso compositor.

Isso está no segundo CD, no qual Cury faz, em um fagote barroco, três obras em ré menor --além da "Sonata" de Carl Philipp, duas obras de Johann Sebastian: "Partita BWV 1013" para flauta, e a "Suíte nº 2" para violoncelo.

É um CD inteiro de fagote solo, mas não há peso: Cury tem um som cheio, varia as articulações com sabedoria e é bastante convincente nas adaptações arrojadas das obras originais para flauta.

No primeiro CD do álbum, utiliza um fagote Püchner em três obras de Johann Sebastian para viola da gamba (instrumento de seis cordas e trastes tocado com arco), contando com a participação magistral de Alessandro Santoro no cravo e órgão.

Já o CD do cellista Raïff Dantas Barreto é o primeiro volume de uma (agora aguardada) integral das "Suítes" para violoncelo solo de J. S. Bach.

Inclui as suítes nº 1, 2 e 3 interpretadas em instrumento construído por Saulo Dantas Barreto, seu irmão.

Apenas outros dois brasileiros, ambos nordestinos --o potiguar Aldo Parisot e o pernambucano Antonio Meneses, além do grego radicado no Brasil Dimos Goudaroulis-- gravaram o conjunto de seis suítes.

Dantas Barreto enfrenta Bach sem medo do passado. Parece olhar as danças de frente, com a segurança de suas próprias origens. Apenas projeta adiante o que havia introjetado ao longo dos anos, sem forçar nada: é uma ótima versão para quem vai ouvir as obras pela primeira vez.

Na "Sarabande" da "Suíte nº 2", ao lado da elegância de Meneses e da inquietação de Goudaroulis, temos agora o brilho dançante de Dantas Barreto; mas temos também o fagote distante de Cury, que nos faz duvidar que a música tenha sido feita para um instrumento específico.

J.S. BACH / C.P.E. BACH
ARTISTAS Fábio Cury (fagote) e Alessandro Santoro (cravo/órgão)
GRAVADORA independente
QUANTO R$30, em média (duplo)
AVALIAÇÃO ótimo

BACH (Suítes 1, 2, 3)
ARTISTA Raïff Dantas Barreto (violoncelo)
GRAVADORA independente
QUANTO R$ 25, em média
AVALIAÇÃO ótimo