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Crítica - Drama

'Eles Voltam' revela diretor promissor

Longa de Marcelo Lordello mostra as transformações de garota deixada na estrada pelos pais

SERÁ UM TRAJETO LIBERTADOR PARA A PERSONAGEM, MAS TALVEZ AINDA MAIS PARA O ESPECTADOR QUE PARTILHAR A AVENTURA

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Logo na abertura de "Eles Voltam" algo se produz que dificilmente podemos entender: na vasta paisagem, morros e estrada, um carro para. Pouco depois duas pessoas descem. São dois adolescentes: os irmãos Cris e Peu.

O carro arranca e, durante a discussão entre os jovens que vem a seguir ficamos sabendo que, por brigar dentro do carro, foram castigados pelos pais: ficariam na estrada. Nada de tão estranho assim, podemos imaginar que os pais voltariam logo depois, quando os irmãos tivessem sossegado.

Não é, no entanto, o que acontece. Os pais não voltam. Peu, o mais velho, que comanda a situação, resolve ir a um posto de gasolina próximo em busca de ajuda. Mas Peu também não retorna.

Cris, de 12 anos, agora está sozinha no meio da estrada, forçada a tomar suas próprias decisões em sua tentativa de voltar para casa.

CASA E LAR

Com seus planos longos, reflexivos, que nos vinculam à personagem, o diretor Marcelo Lordello nos introduz sutilmente a algumas questões, como o que é voltar para casa? E o que é "a casa, o lar"?

A odisseia de Cris, desde então, se dará no reino da diferença: os pobres, os que vivem à beira da estrada, aqueles com quem ela, menina da classe média recifense, não tem contato habitualmente.

Voltar é, assim, um aprendizado de mundo, uma aula de civilização. Como diz o próprio autor, existia para Cris a opção --crescer ou estagnar.

Sua escolha possível consiste em permanecer à espera, no meio do nada, ou conhecer um mundo fora "do lar", ou seja, exterior a esse território norteado por grades de isolamento, onde o lar, assim como a escola, os amigos, é mais ou menos sinônimo de "o mesmo": nós, a classe média culta, recifense ou não.

A viagem da garota ao mundo do outro compõe, afinal, um trajeto de autoconhecimento. Ele se revelará ao espectador aos poucos, como para a própria Cris.

OLHOS ABERTOS

Será um trajeto libertador, para ela, sem dúvida, mas talvez mais ainda para o espectador que tenha a paciência de partilhar a aventura desse filme em que tudo parece ser ousadia.

A começar pela imagem da protagonista, na qual à fragilidade aparente responde um caráter de resistência (ao nosso olhar, ao tempo, ao infortúnio), e a capacidade de manter os olhos abertos, isto é, de não se fechar a nada.

Ela voltará, é certo, mas é improvável que seja a mesma pessoa. O próprio da aventura é transformar: Cris transforma-se ao longo desse filme de estreia mais que promissor.


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